quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ano Novo

Arrumo as gavetas na esperança de arrumar as ideias, alinhar os chakras, pôr ordem no feng shui. Mas as gavetas são mais fáceis de arrumar que a desordem das ideias, o caos dos pensamentos. Deito fora papéis de rebuçados, pacotes de açúcar coçados, guardanapos com desenhos, no mínimo estranhos, memórias de coisas das quais já não me lembro. Lembranças de outras aventuras, para as quais não há bibelôs ou souvenirs que as valham, essas, permanecem cá dentro. Sacudo o pó dos móveis na tentativa de com cada pequena partícula voem também, para não mais voltarem, os sentimentos de culpa, as inseguranças e os medos que como bolas de cotão se nos vão prendendo ao corpo. Faço a cama de lavado. Como se a frescura da almofada e cheiro a sabão tradicional, se transmitisse por osmose directamente para dentro da minha cabeça. Tiro de cima da mesa da cabeceira, demorando-me no pormenor das capas, todos os livros que ali se acumularam ao longo do ano. Outros hão-de adorná-la no ano que vem. Alinho as roupas no roupeiro. Endireito os casacos e as calças nos cabides o melhor que posso sem roçar o neurótico.
Aproveito-me, sem vergonha, da ideia romântica e que com um novo ano começará um novo ciclo, uma nova fase, enfim, algo de novo.
E ninguém quer começar o quer que seja com o quarto por arrumar.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Fazemos uma pequena pausa nas rabanadas e damos tréguas às azevias. Saímos por momentos debaixo das mantas polares e de perto dos familiares, para desejar a todos aqueles que escaparam ilesos à 200ª transmissão do filme “Sozinho em Casa” um óptimo dia…afinal, dizem que é Natal.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Esqueci-me que era dia e adormeci.
Esqueci-me que era noite e acordei.
Nas minhas recordações permanece parte de ti, como uma fotografia desfocada. Foste com o vento que vem do sul. Vento raro. E eu sem mãos para te agarrar. O desconforto de já não me lembrar da tua voz, é pior que a angústia de algum dia te voltar a ver.
Esqueci-me que eras importante e perdi-te.
E tu ainda te lembras de mim?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Frio & Programas de Natal para todos nós

Estou rodeada de lenços de papel por todos os lados. Grande parte deles usados. O gato preto com nome de cantor africano dormita enroscado em si próprio, sem que a desarrumação pareça preocupá-lo.
Na mesinha de cabeceira amontoam-se os remédios milagrosos que prometem fazer com que pare de tossir, de espirrar e com alguma sorte impedirão que mais lenços se juntem aos outros.
Está um frio gelado que ameaça tornar-me as mãos em dois glaciares se continuar a insistir em escrever estas linhas.
Do andar debaixo sobem distorcidas as músicas dos programas dedicados à época Natalícia. Apresentadores sedentos de solidariedade e alegria e amor, acompanhados pelas grandes estrelas da constelação musical portuguesa, chamam o público sénior a abanar a cabeça para um lado e para o outro, e enquanto este canta sua própria versão da música "White Crhistmas” bailarinas sorridentes de fatos brilhantes feitos à medida desafiam o frio entre piruetas bem ensaiadas.
É claro que não sei precisar nada disto, enfiada que estou entre mantas polares, mas se me permitem sinto-me, do alto da minha experiência de fins-de-semana pré natalícios, no direito de adivinhar. Além disso podia jurar que acabei de ouvir uma voz trémula dizer que no tempo do Salazar não fazia tanto frio pelo que mantenho a minha versão.
A verdade é que não é uma boa altura para se ficar doente, esta. Nem um bom sítio. Aqui de Inverno faz tanto frio como no Verão faz calor, um calor sufocante. Mas se me perguntassem neste momento o que preferia eu, de nariz vermelho responderia sem dúvidas e em voz nasalada, venham de lá esses 40º graus à sombra! Ou não, que eu até sou pessoa para gostar do Inverno. E agora se me dão licença vou ali tomar mais um comprimido e preparar-me para emoções fortes. Este deve ser dos bons, se bem me recordo no folheto informativo referiam possibilidade de alucinações.

domingo, 29 de novembro de 2009

Contratempo

Não são meus os meus dias. Delego-os a outrem, passo-os para outras mãos como se de um jogo de batata quente se tratasse. Deixo os meus dias a gente indiferente, a quem por não serem deles os meus dias, não lhes queimam as mãos. Negligentes, lá vão esses a quem entrego os meus dias, organizando hora a hora, minuto a segundo, o tempo que devia ser da minha total responsabilidade. Deixo-os brincar assim, sem vergonha nem preocupação com o meu precioso tempo. Professores de condução encaixam-me entre duas horas apertadas, esquecidas, suadas pela urgência de pontualidade, condutores de transportes públicos gastam-me os minutos, pela falta dela, professores de matérias pesadas que nada me dizem, obrigam-me a que os oiça, por tempos que parecem infinitos. E até tu, irresponsável e inconsequente, brincas com o meu tempo, deixando-me impacientemente à espera. E mesmo repetindo para mim que não há tempo a perder, que o tempo urge, que o tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem, não consigo recuperar o que é meu de direito. Ou talvez nem queira. Afinal, só tu e eu sabemos como às vezes é tão bom, simplesmente...deixar andar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Que tal...uma banheira de espuma

Hoje enchi a banheira de sais de banho e água quente e pus-me lá dentro. Resolvi aproveitar devidamente esta pausa forçada só concedida aos mais afoitos que andam à chuva de maga curta e lembro-me de na altura ter pensado que até um tal de Gene Kelly tinha um chapéu na cabeça quando foi a vez dele de enfrentar as intempéries. Deixei-me estar naquele dolce fare niente até os dedos dos pés e das mãos, mais houvessem, enrugarem que nem os de uma centenária e por ali fiquei a ver bolinhas de sabão flutuarem no ar espesso da casa de banho. Pensei muito em quase nada, mais um tanto em coisa alguma enquanto o rádio debitava canções de outros tempos a fazer lembrar ora geladarias americanas azul pastel ora clubes nocturnos fumarentos cheios de vozes negras e profundas, daquelas que hoje com relativo sucesso se vão imitando. Considerei se te teria realmente debaixo da minha pele enquanto desafinada tentava em dó menor esfregar a parte central das costas. Desisti e abandonei-me de novo às bolhas de sabão pensando em como me daria jeito uma mão extra. Dei por mim a tentar lembrar-me, com duas rodelas de abacaxi nos olhos, se havia uma grande probabilidade de ter deixado a porta mal fechada e só muito a custo consegui afastar as insistentes imagens daquela miúda gritante do filme do Hitchcok. Voltei por momentos à contemplação do nada. Quando por fim saí da banheira já tinha lido dois livros, decorado a letra de três canções do Stevie Wonder e pensado de forma critica na actual conjuntura económica. Descontraída olhei-me ao espelho e pensei para comigo em como realmente tinha valido a pena tirar um dia de folga.
Ou isso ou passei o dia inteiro a fazer zapping…assim de repente não me recordo, foi uma das duas.

domingo, 15 de novembro de 2009

Downtown Benfica

Havia um plano, mais ou menos delineado… o sitio e o dia estavam marcados. Comprámos roupa nova, e desprendemo-nos da ideia de conforto com tal naturalidade que nem uma unha encravada constituiu problema ao uso de uns sapatos altos acabados de sair da loja. Tudo em nome da noite desejada. Desdenhámos as competências da nossa companhia, depois de se recusarem a vir buscar-nos. Mas lá fomos contrariadas apanhar o autocarro da carris, sujeitas a adversidades tais como a humidade do ar e as pedras irregulares da calçada. Mas tudo bem… chegámos ao destino. E com a atitude de quem pensa jantar esparguete com bacon tocámos insistentemente à campainha.
A mesa está posta… e não há tachos de alumínio, nem esparguete nem bacon. Surpreendentemente, os copos são de pé alto, há velas de cheiro, há uma travessa com pedaços de fruta, outra com carne, vários molhos e todos os utensílios do fondue harmoniosamente dispostos em cima de uma pequena mesa redonda. Brindámos a clichés ao som de blues… bebemos vinho do porto frutado e pegámos com classe nos copos... foi em Benfica mas podia ter sido num qualquer apartamento de tecto alto em Manhattan.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Tomás (nome fictício)

Por ti trocava as minhas convicções por vantagens a curto prazo.
Esticava os cabelos de caracóis anárquicos em suaves madeixas loiras, que puxaria para trás a cada dois segundos. Por ti, mudava o nome para Carlota, adicionava um Joaquina, mais um, dois, quem sabe até três nomes estrangeiros. E fazia com que me tratassem pelo diminutivo mais o nome mais sugestivo e importante. Por ti, ao teu lado, trocava o riso alarve pelo sorriso aberto, branco, branqueado, brilhante, na minha pele morena de solário. E substituía o subtil pelo sugestivo, trocava-te as voltas, entre insinuações e disfarces, num flirt manejado com arte. Por ti conduzia um smart. Preto, dois lugares, com o labrador pura raça no teu colo, mais a prancha no tejadilho, e prometo, ia a todos os teus treinos de râguebi. Por ti…aos teus pais, escondia o tolo orgulho de crescer nos subúrbios, Cascais! mentiria eu, em tom afectado, quando em coro me perguntassem onde nasci. Por ti, abdicava da cerveja, gelada, e só bebia vodka limão. Por ti punha de lado a ridícula necessidade de ser diferente e aderia ao padrão. Menina boa, rica família, um cavalo. Por ti, e por esse teu jeito desajeitado e preguiçoso de ser, criava uma conta no Facebook, deixava de lado os All-star gastos e só calçava Timberland, Merrel e uns flip-flop bem altos no Verão.
Por ti, fazia isto tudo, ou talvez…não.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

麻雀


Vinte e muitos de Outubro, o mês por excelência da castanha, do encurtar dos dias, de uma melancolia sublime que se sente nos olhares e nos sabores. O calendário marca Outono. Mas parece ainda Verão. Sempre ouvi dizer que um Outubro quente não traz boa coisa. Mas não me queixo.

A noite é bem temperada, tornando-se mesmo ofegante em certos momentos. Manga curta, roupa leve, não destoamos e damos nas vistas. Hong-Kong é o mote. E seguimo-lo (quase) à risca… Digamos que vamos na onda dos olhos em bico. China e Japão para nós, é como Portugal e Espanha para os americanos - a mesma coisa.

A última garfada (os pauzinhos são bons é para prender o cabelo) de mussaka ainda não chegou ao estômago e já estamos em passo acelerado rumo ao metro mais próximo. Começou a corrida. Damos graças pela pontualidade dos outros (também) não ser britânica e por termos uns sapatos de boa qualidade. Chegamos a tempo, o filme ainda não começou! A comunidade chinesa ainda nem se quer entrou.

Sparrow, é o filme. Um filme que tem uma óptima banda sonora. Mas o importante a reter é: se um pardal vos entrar pela janela dentro enxotem-no imediatamente ou poderão acontecer-vos coisas muito más. Foi no mínimo um melodrama surpreendente numa bela noite de Outono.

domingo, 11 de outubro de 2009

Por aqui




segunda-feira, 28 de setembro de 2009

(fuga à) Rotina

E se alguns, numa fase mais turbulenta, andam cabisbaixos e macambúzios, melancólicos até mais não, devido a terríveis quezílias familiares que nos põem a mal com outros e principalmente com nós próprios, tudo por causa de desavenças políticas…outros há que está-me cá a parecer não podiam estar melhor. Falo de uma amiga de cabelos esvoaçantes que flutua pelos corredores da faculdade, alheia, (diz ela) aos olhares sugestivos de certas pessoas, e que, num gesto incompreensível, faz de tudo um pouco para evitar os encontros imediatos com as pessoas certas. No entanto, e se me é possível fazer um reparo, é vê-la ter longas conversas com pessoas com as quais não nos lembraríamos sequer de trocar duas palavras. Mas é assim a minha amiga. Cada um é como cada qual. E qual quê se ela se dá mal com isso. É ver o acaso a trocar-lhe as voltas, o destino, ou como lhe queiram chamar, a fazer-lhe um jeito, as coincidências unidas em torno de um só objectivo: fazer-lhe aquela vontade inconsciente, ou conscientemente ocultada, e ai que chatice lá tem ela de partilhar apontamentos, trabalhos e conversas de ocasião com alguém, aparentemente bastante interessante, que, sabe-se lá porquê, acabou por não desaparecer por um semestre a fim de treinar o seu mandarim. E se isto importa? Sim! Porque todos sabemos como é difícil encontrar um incentivo para nos levantarmos de madrugada, de olhos pequeninos e cabelos desalinhados, despacharmo-nos a custo com a cabeça ainda nalgum sonho mais estranho, esperarmos tempo indeterminado nas paragens, sermos empurrados como gado bovino por entre as portas automáticas dos metropolitanos apinhados de gente, tudo para chegarmos ao mesmo sítio onde inevitavelmente veremos as mesmas pessoas olá-tudo-bem-ta-tudo-e-contigo, e fazermos, com uma outra variante mais louca e inesperada (possível mas muito raro) as mesmas coisas.
E se querem que vos diga hoje até nem foi um mau dia....afinal nem todos se podem gabar de ter comido um empada de porco preto.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Subalternos

Ao que parecia a ordem vinha de cima. De onde, afinal, vêm quase sempre todas as ordens. Mas de cima de onde, perguntei levantando a parte direita do lábio e deixando-a assim durante um bocado para expressar a minha incredulidade e nojo, agravados por cinco horas de espera, e caso tivesse mesmo que ser, eu até nem queria, iminência de conflito. Parecendo adivinhar o que o esperava, o homem dentro da farda de segurança parou de mascar a pastilha olhou para o lado e numa postura de Calimero soltou a máxima de quem recebe ordens de cima, “oh menina, eu só faço o que me mandam, se entra aí alguém eu é que me lixo”. E podia jurar que no fim dessa explicação ainda houve espaço para um repuxar de saliva mas posso ter imaginado, afinal, já eram muitas as horas a fixar paredes e chão alcatifado. Com tais argumentos não tive mesmo alternativa senão levantar-me. As ordens eram claras e precisas, ali, naquele estabelecimento da carris onde sobejava a tensão e escasseavam as cadeiras, ninguém se podia sentar no chão.
Saltando todos os dramas reais do quotidiano inerentes à obtenção de um passe, que ligam os exasperados cidadãos uns aos outros criando laços de afectividade tão fortes como efémeros, e que permitem a senhoras de sessenta e cinco anos dissertar não só sobre o filho e o seu hobbie favorito: tunning de computadores mas também de forma detalhada sobre as suas intervenções cirúrgicas sem qualquer peso na consciência pelo mal que faz ouvir coisas que não nos interessam…foi agradável voltar à capital.

E que gostinho especial o de passear por uma rua Augusta cheia de turistas e estudantes erasmus, entusiasmados e sorridentes ao verem pela primeira vez um rapaz a tocar acordeon com um cãozinho ao ombro, tagarelando no seu sotaque estrangeiro enquanto flutuam despreocupados sobre a calçada, e dar por mim, no meio disto tudo, a desejar sem qualquer ponderação profunda que não se desista do TGV.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

...


Perdida no metro, esse espelho da cultura local, entre suecos naturalmente loiros e de olhos azuis, deu-me vontade de pertencer àquela cidade. E ilegalmente sentada no banco azul almofadado, com o meu bilhete de validade expirada na mão, pensei em como seria tão bom iniciar na chamada Veneza do Norte da Europa, uma vida de boémia e intelectual. Tal e qual aquelas pessoas que à superfície da cidade, deambulam de saco de pano ao ombro, máquina fotográfica ao pescoço e livro na mão. Pensei em como seria interessante arranjar uma bicicleta com cesto de verga, pôr lá dentro o gato, mais a toalha de pic-nic aos quadrados e a sandes de salmão fumado, e pedalar, contornando os turistas incautos, até à esplanada mais próxima. Ficar por lá a bebericar uma pilsener e a escrevinhar num caderno pautado frases soltas, ideias brilhantes ou, um pouco de ambição não faz mal a ninguém, a próxima grande obra da literatura europeia. Sim, que isto ao sonhar, acordado ou a dormir, não tem nada que se lhe pôr um freio. Os meus planos eram simples, arrendava um apartamento, na parte mais bonita da cidade, convidava uns amigos a viverem comigo numa casa com mobílias práticas e fáceis de montar IKEA, e era um ver se te avias de noites seguidas de dias agradáveis e estimulantes. Com esta ideia em mente parei na estação de Skanstull, convencida que para ir para a frente com tudo isso bastaria começar a apostar em força na lotaria nacional que a sorte encarregar-se-ia do resto. Até agora nada a registar. Talvez a sorte ache que ainda não estou preparada para deixar para trás as paisagens bucólicas do interior, ou a tão invejada luz da nossa capital mais a sardinha assada e a moamba, para passar a viver numa cidade em que amanhece às 4 da madrugada. Talvez, talvez…E enquanto isso os foguetes rebentam lá fora, a assinalar a festa, que por aqui se quer brava, em que os touros, os toureiros e os civis inconscientes de mão dada com o vinho tinto, são os protagonistas, com fado vadio e música popular como impulsionadores das longas, e por enquanto quentes, noites de Agosto.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Stockholm





segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ora desta vez apeteceu-me fazer um desenho

Vamos assumir que esta sou eu, em situações normais.
(olhem para mim tão alegre e sorridente)




Pronto.

Agora...Esta aqui debaixo também sou eu mas desta vez numa situação extraordinária.
(reparem como a minha expressão se altera)



E é assim que a coisa se tem processado nos últimos dias...a minha inspiração sugada, sem dó nem piedade, pelo colorido sistema rodoviário.



quinta-feira, 23 de julho de 2009

Press Play

Faço uma merecida pausa no estudo dos sinais, das cedências e passagens, dos estacionamentos indevidos, e de todas essas matérias de elevado interesse, que, com alguma sorte, farão de mim uma condutora prudente e de pé leve. Uma pausa bem mais pequena que a que fez este blog, onde o pó se acumulou, criando pequenos coelhinhos de cotão, aqui e ali, por baixo de posts antigos. Poderia inventar desculpas, mais ou menos mirabolantes, para o abandono a que remetemos este nosso “espaço”. Poderia até dizer que nada de interessante aconteceu nos últimos tempos, o que seria uma escandalosa mentira…e que além do mais, nunca foi impedimento para que aqui se escrevesse, não fossemos nós adeptas das longas conversas sem assunto. Mas a verdade é que nos tomou de assalto um desinteresse pela escrita, uma espécie de gripe A da criatividade que pôs o Bolachas de quarentena, como se de um autocarro apinhado proveniente de Guadalajara se tratasse. Não nego, não foram poucas as vezes que por aqui vagueei, na esperança de que por magia aparecesse, neste exacto local, um post inteligente e com humor, ou apenas um dos dois vá…
Lamentações à parte, pode-se dizer que voltámos, agora que sabemos que existe pelo menos mais uma pessoa a ler-nos, para além daquele amigo a quem obrigamos uma consulta frequente e de quem ouvimos, deliciadas, os elogios sentidos, em troca de uma ou duas imperiais.
Pode-se esperar, então, um retorno aos dias áureos deste blog…e aos gastos em minis e tremoços.
Mas isso fica para uma próxima…que agora tenho de ir ali decorar limites de velocidade.

sábado, 20 de junho de 2009

La Mala Educacion


Decidi dar uma nova oportunidade a Almodóvar. Depois da sensação de perda de tempo que me tinha deixado “Kika”, achei por bem permitir a este realizador espanhol que me voltasse a surpreender, como tinha feito com “Tudo sobre a minha mãe” e “Mulheres à beira de um ataque de nervos”. Preparada física e psicologicamente para uma sucessão de cenários em cores berrantes e cenas homo-eróticas, prendi os cabelos com uma flor enorme e refastelei-me no sofá da sala com as janelas abertas em par. O calor estava a pedi-las. Durante todo o filme não consegui tirar os olhos do ecrã, muito por culpa, admito-o, de um Gael Garcia Bernal, moreno e semi-nu que se passeava, provocante, entre junkies e travestis mas, também por uma estória, deliciosamente filmada, que em nenhuma circunstância me fez desviar os pensamentos para o que iria fazer a seguir ou o que seria amanhã o almoço…Valeu a pena fazer as pazes com Almodóvar.

domingo, 14 de junho de 2009

Sardinhas & Manjericos


Numa romaria a seco iniciámos mais uma noite memorável, na noite que é desse santo do menino, do hábito e dos casamentos colectivos, padroeiro da nossa Lisboa. A verdade é que tenho um carinho especial por esta noite das marchas e da sardinha, da ginga e da cerveja. Dos abraços apertados dados a pessoas que naturalmente nos desaparecem e por quem sentimos uma saudade momentânea, quando mais magros, mais bonitos ou na mesma, se cruzam com o nosso alter-ego embriagado e sentimentalista. Gosto genuinamente desta noite que se quer popular, e em que há desculpa para conversas familiares com estranhos sobre ensaios do rancho da sociedade recreativa de Arcos de Valdevez, mensagens embaraçosas, danças frenéticas ao som de música ligeira espanhola, conversas brejeiras, gestos abusadores e inofensivas invasões da privacidade alheia bem como todo um rol de situações que, em situações normais, nos deixariam com as mãos a tapar a cara num gesto de vergonha incontrolável. Gosto de toda aquela agitação. Agitação nas ruas, nos outros e em nós próprios, impulsionada por um consumo exagerado de álcool que une trolhas e taxistas, vendedores de sardinhas e estudantes. Gosto do sentimento colectivo de festa e da necessidade geral de dizer mais que a conta, de deixar escapar verdades, vontades ou sentimentos, de meter a pata na poça, o pé na argola. Gosto desta noite por ser uma noite única, e incomparavelmente catártica, em que nos deixamos levar com a música e o reboliço das gentes, empurrados por caminhos apertados, de pés pesados e vontade flutuante, em que só de manhãzinha, chegados a casa de outro, damos conta que trouxemos na mala um conjunto de chávena e prato de uma qualquer marca de café de topo.

sábado, 30 de maio de 2009

Dias de Festa

Ontem o dia vestia-se de comemoração.
Preparei a minha melhor saia de padrão africano, calcei as sandálias de cunha bem grande, vermelhas e não as encarnadas que guardo para ocasiões mais formais, e coloquei nas orelhas os brincos dourados enormes que acompanham na perfeição o movimento das ancas em modo festa. Dei volume aos cabelos num gesto enérgico de baixar e levantar a cabeça, até ficar tonta, e domei apenas os caracóis mais rebeldes em zonas estratégicas. Meti-me no bólide com a minha crew, levando comigo na mala um tupperware para trazer uns rissóis, e rumei, na expectativa de uma festa em b.leza, à margem de cá. Enquanto o carro percorria os viadutos e as auto-estradas dos subúrbios, baixei o vidro para que o som alto das músicas mixadas se propagasse pela tarde quente de Primavera, em tom de alegre desafio. Passei indiferente pelos fóruns e centros comerciais, onde rapazes de ténis e boné da Puma, azul-bebé ou rosa pastel, conforme o grau de excentricidade, passeavam de mão dada com as namoradas de t-shirt curta a mostrar a tatuagem tribal, para orgulho do respectivo e indignação das mães, avós e toda uma geração de mulheres de família. Parei num parque de estacionamento quase deserto, entre nada e coisa alguma...Esperei com o resto do party people pelo pessoal dos subwoofers e do chão rebaixado que chegou a meio de uma conversa sobre gostos duvidosos e unhas de gel. A tarde já cedia à noite quando fui guiada por um bairro de casinhas baixas, carrinhas familiares e courts de ténis em que as paredes limpas não mostravam qualquer sinal de tags ou grafittis ilegais. Quando cheguei à festa, o aniversariante recebeu-me de sorriso rasgado e camisa Lacoste. Prossegui com a noite, alegre e educada, sem palavrões ou sons de balas perdidas, entre sorrisos, gestos cordiais e desejos de mais um ano com saudinha, alegria e tudo de bom se deus quiser. Comi saladas temperadas com vinagre inglês, petisquei cogumelos italianos, e cantarolei em conjunto músicas dos sempre loiros (bom, uma era morena) ABBA.
A noite ia a meio, quando descontraída, entre a primeira e a segunda caipirinha by bimby, pensei para comigo que, decididamente, aquela não era a margem sul que tão bem conhecia...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Hoje

Acordo invariavelmente despenteada e mal disposta, pés descalços no soalho gasto e dirijo-me desajeitadamente e com o passo pouco certo, até à cozinha. Mato a sede com uma caneca cheia de água, que bebo quase num golo. Espreito o dia pela janela da marquise e parece-me que ainda é cedo, volto para a cama. Não consigo dormir, mas prefiro ficar quieta no meu quarto às escuras. Permaneço assim, mais de uma hora. Começo ouvir o rebuliço do acordar da cidade. Lá fora nasce o dia, que promete ser quente e abafado. E aqui dentro mantem-se a incerteza e cultiva-se o desassossego do que me espera quando sair porta fora.






sexta-feira, 22 de maio de 2009

Queques de Laranja

Vou sentir saudades daquele restaurante na Lapa. Tão chique que sou, ou era, ou fui e vou deixar de o ser, agora que acabaram os almoços com os Noronha, os de Andrade, os Breyner e os Lobo Antunes, lado a lado como que almoça com um qualquer Silva.
A sangria branca e os croquetes da despedida, partilhados com as companheiras dos dias duros de trabalho árduo, souberam-me agridoce. O queque feito de nuvens de laranja espera, na cozinha, que o devore. Estou sentimentalista. Vão-me fazer falta as Carlotas, as Beneditas, as Pipas e os Fredericos de cabelo desgrenhado que selvagens corriam pelo restaurante gritando exigências às tias que são só amigas das mães. Vão-me fazer falta as incoerências da Dona Rosa Loira que ora servia bem ora servia mal, os mini-pratos de iguarias gourmet acompanhados de copos de água. A ausência, à hora de almoço, de senhoras finas de capacetes brancos, da rudeza chique da fala de Cascais e de vedetas de sexualidade alternativa vão dificultar imenso as conversas da tarde, tá a ver? Já para não falar da incerteza do amanhã e do receio que, logo agora que aprendi a prolongar o final de cada frase e passei a tratar as minhas amigas por você, me espere um regresso à negra fase dos tascos e do bife com ovo a cavalo. Vai ser difícil passar sem aquele restaurante na Lapa, agora que acabaram os trabalhos, os testes e as aulas, e o futuro aproxima-se a passos largos sem que se justifique tal urgência. Mas o que vai ser mais difícil nisto tudo é saber que no fim de um esforço imenso, não nos espera, paciente, prometedor e fofo, um bolo numa caixa.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Tipo


São dez e doze. Dormir sete horas é imprescindível, sobretudo se amanhã quero acordar cedo. Bem cedo para ouvir a professora de voz monocórdica anunciar os grupos e os seus trabalhos. Bem cedo para ouvir as argumentações mais ou menos sustentadas, reparar nos tiques nervosos, no esbracejar dos mais extrovertidos e com sorte ver o tipo do norte que veio para o litoral de calças justas e atitude de macho latino. Com sorte vejo esse tipo apresentar o trabalho dele, nas suas calças justas. Com a sua atitude de macho, latino. Não me deixo enganar pelo jeito seguro com que enverga as calças justas, a atitude essa, me encanta, mas não lha acredito. É um punk, um rufia, um quantos-são-venham-eles, cujo à vontade não me convence. Tímido, tímido demais para se assumir como um. Não me engana. Não é macho e de latino tem pouco. O tipo que quer que a região passe a país e de país passe a planeta. É um extremista é o que é. Um extremista que não me convence. Não gosto por aí além de extremistas, sobretudo se usam calças justas. É um rufia é o que é, aparentemente seguro e macho com as suas patilhas bem grandes. Como se a masculinidade de um homem se medisse pelas patilhas. É extremista o tipo das calças justas, extremista até nas patilhas. Não gosto de patilhas grandes. E também não gosto que o tipo extremista das calças justas e das patilhas grandes passe e finja que não vê, que evite grandes conversas, no seu sotaque de macho, latino. Mas nisto já são dez e meia e tenho de me ir deitar porque amanhã tenho de acordar cedo. Bem cedo, para ouvir a professora de voz monocórdica anunciar o grupo do Tipo que veio do norte para o litoral nas suas sugestivas calças justas e com o seu ar diferente, de macho. Bem cedo, para no meu jeito de quem não se importa e olha para o lado como quem não vê, assistir numa distracção encenada à apresentação daquele Tipo…que num masoquismo infantil, gostava que me deixasse deliciosamente arruinada.




terça-feira, 12 de maio de 2009

Gregor Samsa


Sábado passado fui ao teatro com uma intenção perigosa…A de deixar-me surpreender pela adaptação à arte dos palcos de um dos meus livros preferidos. Quando entrei na sala era de facto surpresa o que me aguardava. No meio do palco, um homem, vestido de preto, permanecia imóvel deitado dentro daquilo que parecia uma cápsula espacial. Depois de muito procurar, questionar e pedir por favor podia deixar-me passar, sentei-me, finalmente, na cadeira que me pertencia. À minha volta outras pessoas, igualmente desprevenidas, louvavam o feito desse homem de preto que teimava em permanecer quieto, e comentavam “e se lhe dá vontade de coçar o nariz?!”. Não deu. A peça foi chata, com direito a uma ou outra gargalhada sincera e muitos bocejos. Só Gregor, o escaravelho charmoso de jeito afectado, dava algum alento aquela tentativa de transformar um livro genial naquilo que fazia lembrar um filme de anime japonesa. Talvez corra o risco de ser injusta (que importa?) e a peça não seja assim tão má, mas não gostei que brincassem de forma descuidada com um livro que me foi tão querido… companhia de manhãs de hora de ponta, quando ainda marcava presença nos requisitados catamarans, sentada entre trolhas, estudantes, mulheres-a-dias e outros profissionais de índole menos comum, parecendo muitos deles também vítimas de alguma espécie de metamorfose.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Cultura

Passar a tarde rodeada de livros é bom. Faz-nos sentir mais cultos e informados. No tempo em que deveria estar a estudar aprendi uma série de títulos interessantes que me permitirão fazer um brilharete em conversas mais estimulantes a nível do intelecto. Só um exemplo, “oh claro, já dizia Aristóteles no seu Política…”, e a partir daí é sucesso garantido, chegando ao ponto de nos podermos dar ao luxo de acabar a falar sobre a novela das cinco que já ninguém tira da cabeça que somos pessoas extremamente cultas. Passar o dia rodeada de livros é tão estimulante que me levou a tornar no número 782 da biblioteca municipal, e só para começar em beleza, a trazer dois livros de pedigree inquestionável. Não importa que mal tenha tempo para dormir porque o facto de andar com o Inferno de Dante e um livro do João Ferreira do Amaral sobre economia, entre lenços usados e bilhetes de metro, por si só já vai dar uma excelente imagem quando tiver de despejar a mala para encontrar a carteira. Além disso toda a gente sabe que é assim que nascem os grandes romances… “Anda a ler esse livro? Curioso, eu também” dirá o rapaz giro semi-barbudo de óculos de massa enquanto me ajuda a arrumar as coisas. Na pior das hipóteses também ele passou uma tarde na biblioteca…a olhar com interesse as prateleiras quando deveria estar empenhado a calcular preços de acções.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Não me importo muito quando fazes esse teu ar de troça e me lanças um olhar de esguelha. Com esses olhos lindos. Também não me importo quando te ris de mim. É como se te risses para mim. Não me importo quando chegas tarde e eu a desesperar por ti. Tal como não me importo quando não respondes às mensagens e aos telefonemas consecutivos. Quando desapareces sem deixar rasto e reapareces com esse ar cândido e natural. Na realidade eu já nem me importo contigo.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Quinta às dez

Escrever sobre um homem é dar-lhe demasiada importância. Por isso escrevo sobre dois.
Muito me agrada aquele rapazinho da aula das dez de quinta-feira, trata-lo por rapazinho é ironia minha. É Homem até à última casa e eu gosto é de Homens, bonitos, ‘tá claro… Se bem que há por aí um miúdo, que um dia certamente me fará perder o juízo, mas por enquanto apenas me faz lançar suspiros profundos a meio da manhã com o diário económico na mão, em frente a uma meia de leite mal tirada, no bar apinhado da biblioteca. E também serve de inspiração, às vezes… Aiiii! Não, não estou nas nuvens, nem a ouvir passarinhos a chilrear ou qualquer coisa que o valha. Gosto de dar uma aparente importância ao que na realidade não é importante ou que até nem é real. É, mas é verdade eu interesso-me por estes dois. E por mais uns quantos.

sábado, 2 de maio de 2009

O sonho português


E o bom que é ouvir isto na rádio de braço de fora da porta do carro como quem pede bronze à pedreiro? Na minha opinião é só comparável às primeiras sardinhas do ano.

Lisbon Sonata

Enquanto sentada a uma das mesas do cabaret olhava embevecida aquele tipo de barba à António Variações e cabelo desleixado, e o via cantar à meia luz naquelas calcinhas justas cor salmão com a viola à tiracolo, pensava para mim (para além do óbvio)...Foda-se, são estas pequenas coisas que dão sentido à vida...É verdade que basta uma ou duas cervejas para que me assalte o lado brejeiro e filósofo, aquele meu lado, que gosto de acreditar charmoso, de intelectual de taberna. E é vulgar que pense que de vez em quando há noites assim, dias destes, parecidos com anúncios da super-bock. Filmados de longe e na melhor perspectiva...os passeios pelas ruas entre as alfândegas e os edificíos cheios de luz. O nosso melhor lado, com os cabelos ao vento e os óculos de sol, em primeiro plano, com os contentores coloridos desfocados em pano de fundo. Os sorrisos de gozo e cumplicidade com música escolhida a dedo e os olhares timidamente sugestivos e em câmara lenta, trocados com gente que nos faz pensar em prédios de tectos altos e moleskines. Dias que acabam em noites de gente boémia e que ocasionalmente lembramos como se de um filme se tratasse. Por vezes há noites assim, dias destes, em que tudo parece ganhar (outro) sentido.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Avant que j'oublie


Antes que me esqueça...este foi o primeiro filme do nosso indie lisboa (ainda sem o sabor adocicado da borla). Se forem todos assim, então a verdade é que não vai ser fácil esquecer...esperemos que existam menos burgueses homossexuais de meia idade nos próximos ou somos capazes de nos habituarmos ao deboche.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Imagina

Imagina que hoje acordavas e tudo corria como imaginas. O que eu quero dizer é que tudo corria como queres. Imagina. Acordavas e o sol brilhava radioso às dez e meia da manhã, sim porque mais tarde já é demasiado tarde e ninguém quer juntar o pequeno-almoço com o almoço. Lençóis para um lado, tapa-olhos-padrão-leopardo para o outro e ala que se faz tarde pés no chão e banho quente-frio, frio-quente para estimular a circulação. Vestes a tua roupa favorita, impecavelmente passada e cheirosa e penteias o cabelo irrepreensivelmente volumoso de jeitos rebeldes. Claro está que te despachas a tempo. Apanhas exactamente o autocarro que devias apanhar e surpresa das surpresas só há lugar ao lado daquele rapaz de cabelo sob o comprido e barba de três dias que partilha contigo os mesmos gostos musicais e o interesse pela fotografia. Sem dares por isso, já chegaram à gare do Oriente, logo agora que se iniciara um debate efusivo sobre perspectivas. Lá terão de combinar um café naquela esplanada à beira rio. Chegas à estação de metro cedo, tão cedo que podes ir de autocarro. Ninguém te passa a frente porque não há filas e sentas-te num lugar à janela. Passeias o olhar sobre a cidade, enquanto o i-pod parece adivinhar aquilo que queres ouvir.
Quando chegas à faculdade só vês quem queres. Pequeno-almoço com a malta do riso alarve e compulsivo, uma vista de olhos no diário económico e encontros totalmente inesperados com as tuas pessoas fetiche, com direito a efusivas conversas sobre gastronomia. As aulas passam a correr e quem diria que estratégia empresarial podia ser tão interessante? Almoças no teu restaurante favorito que num dia completou as obras que já contavam três semanas e como não tens trabalhos para fazer (nem monos a empatar) podes beber o teu café com duas pedras de gelo nas calmas enquanto conversas sobretudo sobre nada. À tarde dás uma oportunidade à miscigenação na tua esplanada favorita e voltas contente e feliz para casa sem seres importunada por junkies agressivos e ameaçadores. A energia mantém-se, jantas com o progenitor e como a noite ainda é uma criança pede que a embales com caipirinhas pretas e deambulações pelo teu bairro lisboeta favorito, ao som de novas músicas, novas línguas e novas boas ideias à meia luz dos candeeiros da rua. Imagina que hoje acordas e tudo corre como imaginas…Isso não deixaria pouco lugar para a imaginação?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Chuva miúda

Andar no bairro alto de dia, com um dia destes, cansa. Nem o bate-papo com os empregados das lojas mega-trendy-alternativas, nem a troca de palavras com os responsáveis olhos azul-água de cafés super zen nos valem com esta chuva miúda que tira personalidade aos cabelos. Finalmente encontrei a galeria ZDB. Mas o pessoal de macacão azul eléctrico intimidou-me e resolvi não entrar. Para a próxima não falha. Pode ser que esteja melhor tempo.

Páscoa

Esta foi uma Páscoa passada entre berros de desatino e correrias no quintal. Feita de tentativas falhadas de falar ao telemóvel enquanto nos gritam coisas do género “cheiras a cocó” e esforços sobre-humanos para manter a calma quando alguém nos pede pela enésima vez para ir jogar à bola e ameaça dizer ao papá que somos maus e egoístas apenas por tentarmos transmitir alguns conhecimentos futebolísticos. As saudades que até há bem pouco tempo eram tantas dão lugar a uma leve vontade de virar aquela pessoa que há dois minutos nos dizia que adorava e agora nos levanta provocante o dedo do meio, ao contrário, e andar com ela à roda enquanto gritamos “estica lá o dedo agora! Vá estica lá!”. Enfim, nada que uma sesta não trate e que um abracinho apertado e umas palavras doces acompanhadas de um sorrisinho meigo não façam esquecer…pelo menos até que a pessoa em causa acorde despenteada e enérgica no seu pijama azul-cueca e se ponha a dançar em frente à televisão mesmo na tal parte em que o Bill Murray sussurra ao ouvido da Scarlet algo que não percebemos bem o que é e que a nós apenas nos soa a um “vou desligar a televisaaao lalala”, risonho e desafiante do nosso querido primo.
Tirando isso, pode dizer-se que foi uma Páscoa bastante calma...




terça-feira, 7 de abril de 2009

Fado e chouriço assado

Se o senhor João mandasse, metade das pessoas sentadas naquela tasca nem metia lá os pés! Sim…porque se o Sr. João mandasse só lá entrava gente boa e miúdas bonitas (não necessariamente por esta ordem). Se o Sr. João mandasse, diz o senhor João, havia de oferecer a próxima rodada. Mas aqui para nós que ninguém nos ouve, toda a gente sabe que o Sr. João gosta é de gente que paga…o pão, o chouriço, o queijo e o vinho… que a vida não está fácil! Ainda para mais para alguém que faz cinco anos foi operado às ancas, um brinde a isso! Venha de lá mais uma imperial que a boca já está seca. Enquanto vem e não vem oiçamos então um fadinho. Aqui na mesa privilegiada do cantinho, onde há petisco, há poetas, há bom vinho! E se a ideia foge para a rima então só pode ser da inspiração…que vem de passar uma noite com fadistas d’alma e coração. Versos fáceis aparte…deixem-me que vos diga que vai ser difícil conter o sorriso de orelha a orelha sempre que me lembrar da noite de ontem, em que o fado vadio, as pessoas e o belo do petisco fizeram as honras daquela tasca em que a vergonha fica à porta, e de mente e peito aberto, à boa maneira do fado, nos sentamos, cúmplices, lado a lado nos bancos corridos, à conversa com pessoas vindas de Alfama à Madragoa, deste ao outro lado do mundo. Tão cedo vai ser difícil superar um serão passado ombro a ombro com o atrevido Sr. Beijocas. “E agora, o vosso silêncio por favooor, porque o vosso silêncio é muito importaaante! Obrigaaada…”

Ah fadistas…

sexta-feira, 3 de abril de 2009

P’ra lá de ti não existe nada. Antes (?). Antes, sim, existe. Existe tanto antes de chegar a ti. Mas quando se chega o que fica é quase nada. Eu cheguei. Fiquei com quase nada, prossegui e perdi o quase nada que me restava. Eu sabia que seria assim. Tudo aconteceu como planeei. Eu planeei o meu percurso conturbado. E todas as conturbações estavam no meu plano, evidentemente! Não foste tu que decidiste, que provocaste, que causaste os danos. Nem era tua intenção. Era minha, a intenção. Fui eu que decidi, que provoquei, que causei. Segui à risca o plano que tracei. No entanto o meu plano tem uma falha, falta-lhe o factor tempo. Esqueci-me de definir quando acaba…

terça-feira, 31 de março de 2009

"A espuma dos Dias"



Ando a ler este livro… “A Espuma dos dias” de Boris Vian. Com esta bela capinha colorida que aqui vêem. E macacos me mordam senão é um dos livros mais estranhos que já li…
Neste meu livro as coisas movem-se sem que lhes toquem, vivem e morrem, tudo com uma naturalidade universalmente aceite…as pessoas, essas, são peculiarmente divertidas e as situações, excêntricas, são descritas com tal descontracção que parecem perguntar-nos com ar admirado “mas afinal o que tem de tão estranho?” sempre que franzimos os sobrolhos cépticos.
Nas palavras do miúdo das sopas Knorr, eu gosto! É daquelas pequenas coisas que nas viagens de regresso a casa me fazem soltar gargalhadas de espanto contido na carreira 32, conjuntamente com as pessoas que se deixam dormir de boca aberta de encontro aos vidros do autocarro.

E enquanto escrevo sobre literatura, numa onda intelectualóide, a tv está ligada num programa extremamente educativo, atrevo-me até a dizer "erudito"…“Paris Hilton’s my new Best Friend”.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Encontros imediatos

Mais um encontro imediato de terceiro grau e não estaria aqui para contar a estória.

Não me interprete mal quem no início deste texto começou logo a ouvir baixinho nos confins da nuca a música dos x-files e a imaginar-me a ser raptada por um grupo de homenzinhos verdes. Escusam de estar já a formar teorias da conspiração que envolvem campos de trigo e menires que não foi nada disso.
Há dias em que não acontece nada, e depois há este género dias, em que acontece uma série de coisas…parvas.
Hoje foi um dia rico em encontros, ou reencontros. Encontrei aquele rapaz giro da faculdade, o outro rapaz giro do autocarro que vejo muito poucas vezes, e que anda com um abanar de anca um tanto ou quanto estranho, encontrei o homem do restaurante dos Sábados ao almoço e das sextas ao jantar, encontrei o Leonardo António que é forcado, tem cabelo à padre, e que visto frequentar aquele grande café que é também espaço de navegação cibernética, onde param betos das lezírias detentores de vacas, bezerros, e toda uma panóplia de gado bovino, e também ele beber café com duas pedras de gelo, curioso, achava por bem que começasse logo ali uma grande amizade de modo a celebrar as coincidências da vida. Até encontrei um senhor que provavelmente prevendo um choque inevitável me disse que ia no lado errado do passeio que o meu lado era o direito e não tinha nada que andar do lado dele, o esquerdo.
Como se isto não bastasse ainda encontrei o “Mané”, setubalense de nascimento e Alcochetano de criação, que com os seu lindo sorriso de dentinhos típicos de quem comeu muitos doces quando era pequenote me pediu o número para futuros contactos, sem grandes pressões que podíamos ser só amiguinhos isto claro senão fosse moça comprometida…Não teve sorte o Mané (apelido, não nome próprio) mas só porque hoje não estava bem disposta, provavelmente coisa de mulheres, senão era certinho que ele ia para casa com mais um número no telemóvel topo de gama e toque real de uma qualquer quinzombada melosa.

Nada mau para uma segunda feira, an?

domingo, 15 de março de 2009

Gran Torino


Um dos melhores filmes de sempre. "O máximo" (ahah)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sobre o Sol e o Calor

Os dias começam a prometer coisas. Cedo. Bem mais cedo do que quando ainda de noite apanhava o metro. Por essa altura os dias só começavam as suas leves promessas mais ou menos pela zona do Cais do Sodré. Agora não. Agora quando rumo à margem norte do rio Tejo já aquele sol tímido da fronteira entre a manhã e a madrugada espreita num irrepreensível céu azul claro. Mesmo quando com as chaves numa mão e as bolachas integrais na outra, fecho com um puxão a porta de minha casa, ao mesmo tempo que vindos de quem sabe onde, outros rodam a chave para abrir e entrarem, cansados, satisfeitos, a custo, pelas portas das deles.

As tardes aquecem. Por volta do meio-dia já se torna difícil manter os casacos vestidos. A sede passa a ser a companheira dos passeios chiado acima, chiado abaixo. Nas aulas ouve-se um burburinho mais acentuado, e as cabeças rodam em direcção às janelas, fossem aquelas no rés-do-chão e as mini saias e a airosa passagem da gente em manga curta o acentuaria ainda mais. As pessoas juntam-se nas esplanadas, e as conversas tornam-se tal e qual o tempo, acaloradas. Reparo neste, naquele e no outro, enquanto através dos óculos de sol, mais ou menos discretos, outros fazem o mesmo.

As noites convidam. A gozar concertos, a beber um copo, a conhecer pessoas. A passear pelas ruas, acompanhada. A ir de tarde, a vir só de madrugada. Os serões pedem bate-papo de pés descalços nos sofás, nas cadeiras das varandas e às mesas dos quintais, com aquela musiquinha exótica a tocar no rádio, como banda sonora de conversas banais.



quinta-feira, 12 de março de 2009

I'm Dimitri

Quero aqui referir que aprecio muito mas mesmo muito as noites quentes fora de tempo (tenho uns gostos estranhos, não é?). São inesperadas, espontâneas e mais divertidas. Ora foi exactamente isso que nos aconteceu, uma noite inesperadamente divertida. Tudo começou num encontro pelo lusco-fusco no largo Camões, prometendo apenas boa companhia e um jantar com lasanhas e pizzas do pingo doce, que são muito boas por sinal. O que se seguiria ao jantar estava ainda por decidir... e ainda bem, porque se tivesse sido planeado e combinado não teria tido tanta graça, aposto. Não querendo entrar em pormenores, vos digo que acabamos a noite a pagar 5 euros por uma cuba-libre num bar de erasmus com uma decoração minimalista (lol)... ahh e com outra identidade, bem mais internacional, Katerine Ciprianni, Ines Rubio e Dimitri Abelha.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Kinder's Surpresa

Certamente não é a primeira vez que o ouvem nem fui eu a primeira a quem o ouviram dizer. É provável que já o tenham ouvido em cafés, que os vossos pais vos tenham dito de olhos nostálgicos ao mencionarem um qualquer episódio com contornos de loucura de uma juventude que hoje, secretamente, desejam que os tivera tido ainda mais, na secção dos congelados do supermercado, ou mesmo nos corredores da faculdade. Bem sei que já o ouviram várias vezes, e, possivelmente, já o disseram outras tantas. Mas dá-me um gostinho especial dizer aquilo que vos vou dizer agora…que é o seguinte, não há nada melhor que inesperados! Digam comigo, I-N-E-S-P-E-R-A-D-O-S (É claro que me refiro aos inesperados agradáveis, e não do género “esqueci-me das chaves”) Como quando, sem qualquer tipo de intenção rebuscada, nos dirigimos com a maior das descontracções à Fnac de um qualquer centro comercial com nome de descobridor português para comprar um CD do Bob Dylan, e de repente somos abordados por uma voz off nasalada que nos faz um convite irrecusável, ao qual respondemos com um telefonema em voz histérica, pois sabemos que o que a senhora, que não tem a mínima noção do que este convite implica, anuncia (um concerto de uma banda que não se chama bem aquilo que ela disse) vai dar origem a toda uma série de sentimentos contraditórios do outro lado da linha.
Ahhh é tão giro isto dos inesperados…ver aquela pessoa quando vestimos a nossa camisa favorita só porque as outras estavam a lavar, acabar a falar espanhol numa tasca quando só íamos beber uma cerveja, conhecer alguém interessante quando íamos comprar uma alface, ou mesmo juntar os amigos para um jantar quando só por mero acaso nos encontramos no metro. O único inconveniente dos inesperados é…exacto, não sabermos quando vão acontecer. O que nos pode deixar ansiosos e até deprimidos, quando o inesperado tarda. Mas segundo a minha avó, que já leva de avanço uma quantidade bastante considerável de agradáveis inesperados e que os conta a todos com uma alegria contagiante, a essência disto tudo é muito simples…as coisas acontecem quando menos esperamos!
Portanto toca a limpar o pó dos vossos melhores sapatos e a ir para a rua sem qualquer tipo de expectativa, quem sabe na próxima paragem vos espere...um inesperado.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Clint Eastwood


Fui ver o Clint Eastwood à Cinemateca.
Não, não, não fui ver um filme com o Clint Eastwood...fui ver o CLINT EASTWOOD! Aquele senhor dos westerns que passam na RTP Memória aos Sábados à tarde. Sim, aquele que consegue, com apenas uma colher e um corta unhas, fugir da prisão mais segura do mundo. Nãaaao, não é o Macgyver, esse é outro, este é outro nível… Fui vê-lo, em acção, em frente às câmaras, numa altura em que ainda mantinha o característico cabelo ruivo e a forma invejável. Vi este homem num ecrã à sua altura, gigante. Com direito a legendas em sueco, amiga no banco do lado e cinéfilos atentos em cada cadeira almofadada. Sem pipocas nem mãozinha marota no ombro ou na perna. Não me importo, nem gosto assim tanto de pipocas. Saí com um sorrisinho na cara, contente e satisfeita como quem descobre algo de novo e a perguntar-me se ainda existem homens do calibre deste Dirty Harry…homens de barba rija, personalidade forte e coração de manteiga, daqueles que nos agarram decididos pelos cabelos (de forma selvagem mas carinhosa) para nos darem um daqueles beijos molhados à Hollywood e em seguida nos erguerem para sela do cavalo malhado para com ele cavalgarmos juntos em direcção ao pôr-do-sol, sem rumo nem destino, apenas com a certeza de um amor para todo os sempre
...Ou pelo menos até que um bandido malvado nos leve o homem vítima de bala disparada à traição enquanto tentava, valoroso, salvar uma tribo de nativos americanos.

Fim, ficha técnica.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Viagem de regresso

Depois de uma viagem de autocarro turbulenta e aborrecida, em que estive uns bons 15 minutos a tentar abrir uma garrafa de água das pedras e estive vai não vai para pedir ao senhor que estava à minha frente, de bigode farfalhudo, que me ajudasse a abri-la (mas não foi necessário, mais um pouco de perseverança e de jeito e lá consegui). Soube-me muito bem. Depois de ter mostrado as minhas cuecas cor-de-rosa às florinhas (que só uso quando sei que não vou encontrar ninguém interessante) a umas quantas pessoas que por mim passaram, visto que ia carregada com as malas e as calças de cintura descaída não paravam de cair. Depois de tudo isto, que não é assim tanto, chego à cidade, à metrópole, à capital do meu país. E um sentimento consumista começa logo a apoderar-se de mim, basta ver as pessoas, o trânsito, andar de transportes públicos, ouvir este barulho, respirar este ar, que me apetece logo ir ver lojas na ânsia de comprar coisas giras e ficar satisfeita e contente.
Mas não, hoje vou contrariar esta minha vontade vulgar e mundana imposta por esta cidade.

Bom, dito isto, está quase na hora de ir ter com a Inês à cinemateca.
É o último programinha destas férias (Ohhh!).

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sala...quê?

Então não querem ver que aquele senhor que governou Portugal em regime autoritário e que deu o seu nome a um bolo, a um instrumento de culinária e esteve também para o dar a um museu em Santa Comba Dão, era um homem sensível, amável e com queda para a poesia?
Pessoalmente, nem me passaria pela cabeça que este homem ambicioso de origens humildes dissesse coisas tão bonitas e rebuscadas como “adoro as suas bochechas”, ou rabiscasse sonetos com elevada carga emocional que mais tarde recitaria à menina (literalmente) dos seus olhos. Afinal, que sei eu sobre Salazar…
Um homem sensível é o que me parece. E atraente até…tenho a sensação que já o vi algures…só que na altura em que eu o vi ele usava cabelo comprido, barba, e andava a querer vingar-se não sei do quê que foi feito a não sei quem ao som de uma música dos anjos…Mas talvez esteja a fazer confusão.
O que eu sei é que se fosse hoje, o jovem Salazar, com o interesse que ao que parece despertava nas mulheres, teria sem exageros mais de mil visitas no perfil do hi5…e muito possivelmente outros tantos convites de moças atrevidas no facebook.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

It's CAMARÕES GIGANTES' time! Yeaaaahhh...

Obrigada Sra. Regente da Cadeira

Estou TÃO FELIZ! Tão, tão, tão feliz! Nem vos passa por essa vossa cabecinha como eu estou feliz! Hoje não importa que lá fora esteja um frio desgraçado, que o vento sopre desenfreado, não importa que não esteja a dar nada de jeito na televisão, não importam os problemas na educação, a crise, o desinteresse, não importa o pessimismo!!! Mantive este mesmo sorriso estúpido na cara desde que me deram a boa noticia à horas atrás, e tenho estado uma chaleira emocional desde então. Já ri que nem uma tonta, soltei gritinhos histéricos e frases muito semelhantes a grunhidos, já chorei lágrimas de satisfação (e de um sentimentalismo lamechas) num autocarro apinhado de gente, já liguei para todos os que partilhavam comigo a ansiedade e a frustração, já dancei Buraka e Martinho da Vila com os vizinhos como se não houvesse amanhã...Estou pronta para as comemorações! Venham os festejos do tipo casamento cigano de duas semanas, com direito a almoços no Sr. João de Alegrete e no Indiano dos Restauradores, a oferta de pastéis de nata em Belém, aproveitem agora que estou uma mãos largas, e a uns copos, do Bairro Alto a Santos… a próxima rodada é por minha conta e não se fala mais nisso!

É impressionante como tudo se torna tão relativo quando finalmente se passa a Matemática.

E agora, um caril de gambas e uma caipirinha preta se faz favor, que
hoje o dia é de festa.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona

Está um temporal em Lisboa, mas quando saio de casa não chove apesar do céu carregadíssimo… Por seu lado e a fazer jus ao alerta cor-de-laranja, o vento e o frio não se fazem rogar.

Com um dia cinzento como este, a fazer lembrar aqueles Invernos a serio da mossa infância em que chovia 15 dias seguidos se fosse preciso, nada melhor que ir ao cinema ver um filme bem quente, Vicky Cristina Barcelona. As expectativas eram, naturalmente, altas… e eu e as minhas amigas preparávamo-nos para assistir a um bom filme. Premissa que se verificou.

Sempre que vou ao cinema e gosto do filme, tenho a sensação de abrir muito os olhos, para não me escapar nada no campo visual. E acho que não me escapou nadinha do Vicky Cristina Barcelona.

Vicky Cristina Barcelona está cheio de sabores.

Sabor a calor, a amor, a (muita!) sensualidade, a beijos, a loucura, a arte, a irreverência e a espontaneidade. Sabor a Barcelona. As cores, a música que é apenas uma mas que nos faz bater o pezinho sempre que aparece, as personagens e Javier Bardem propriamente dito fazem-nos… humm, como direi… flutuar nas cadeiras de cinema e esboçar sorrisos de cumplicidade.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um miminho


Nova aquisição para as viagens suburbanas/ inter-cidades. Recomenda-se para as caminhadas estilosas. Imagino que seja do género que nos faz andar a passos convictos, cabeça esquerda-direita bollywood style e sorrisinho "can't touch this". Mas por enquanto ainda não experimentei. Se são daqueles que, como eu, têm a sorte de só se aperceberem dos táxis quando estes estão a três dedos de distância, talvez seja melhor meterem o ipod na pausa quando andarem ali na zona do cais do sodré.

Posto isto, e como diz mr. Kapranos que vai passar a beber dia sim dia não, "kiss me where your eyes won't meet me".

(ou talvez seja melhor não, que eu não gosto cá de gente abusadora)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Um pequeno aparte...quando escrevi o último post não estava minimamente perturbada com coisa nenhuma, an? Logo eu, chatear-me com insignificâncias...Ahaha! Foi excesso de cafeína, só isso.

Dramas, eu?

Mói! E irrita imenso! E não sabemos bem porquê, porque afinal não tem importância nenhuma e nem nos compete chatearmo-nos com coisas insignificantes e tontas, que nós somos superiores, por amor de deus, é que nem faz sentido, olha agora... mas a verdade é que nem que seja por pouco tempo, isto bate na cabeça como um martelo pneumático fazendo vibrar de forma descontrolada as paredes do cérebro! Para não falar nas crises de fígado. É imensamente chato e estupidamente aborrecido. É daquele tipo de coisas de que nos vamos envergonhar mais tarde. “O quê? Eu chatear-me com isto? Ahaha. Não me lixes…” quando sabemos perfeitamente que o fizemos, porque o fizemos e que muito provavelmente vamos voltar a fazê-lo, desta vez com um pretexto diferente. Somos óptimos a errar, ainda melhores a arrependermo-nos dos erros, mas o que somos mesmo é excelentes a repeti-los.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Típico

Andei eu, até altas horas a vaguear pelo mundo blogeano, a ler o que se escreve nesses “grandes” blogs, que têm anúncios publicitários da cofidis, o que pressupõe que são visitados por muita gente.
E que pertencem, supostamente, a grandes cidadãos, ricos culturalmente, conhecedores de política e economia, com grande sentido crítico, devoradores de cinema, de livros e de arte em geral, possuidores de um talento para a escrita e para o uso da palavra (mais ou menos) irrepreensível, com ideias e opiniões sobre tudo e muito bem formuladas mesmo que apenas descritas em duas curtas frases.


Ora e daparo-me com vários posts sobre Cristiano Ronaldo o melhor jogador do mundo entre muitos obamas e críticas aos mais recentes filmes portugueses e mais umas quantas descrições pseudo-qualquer-coisa do quotidiano de mulheres-mães-modernas ou diria mesmo mulheres-mães-moderníssimas.

Os posts sobre o Cristiano, chamaram-me particularmente a atenção.
Reparei que essa elite, mostra claramente uma aversão moderada a Cristiano Ronaldo. Moderada, pois sim, porque se assim não fosse já lhe estavam a atirar com o velho chavão do típico portuguesismo afincado e da pequenez de espírito. Assim é só moderada, do género “visão inteligente, concertada e distanciada sobre os factos” onde não há exageros nem lugar para a mesquinhez tipicamente, dita, portuguesa.


Conclusão: se és inteligente, não gostas de Cristiano Ronaldo. E gostas assim assim do facto de ter sido nomeado, pela FIFA, o melhor jogador de futebol do mundo.


(pfffff...)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Política

Este blog devia falar de política. Ser palco de críticas bem construídas e piadas inteligentes sobre a cor da gravata do Sócrates. Mas afinal que capacidade teremos nós, jovens moças, cuja experiência política se resume aos discursos suados e efusivos do Jerónimo de Sousa para uma plateia igualmente suada e efusiva no Avante!, e a uma ou outra palestra sobre a crise económica com um bloquista/economista e a sua dificuldade de retrair os argumentos de oposição, para discutir política de forma inteligente? Os exemplos que apontei bastariam para concluir uma tendência à esquerda, mas a verdade é que não passam de coincidências…pessoalmente, e apesar de ocasionalmente usar uma boina, sou daquelas que vai ao Avante! pelo convívio.

A verdade é esta, existe sim senhora algum conhecimento a nível político, mais que não seja derivado das aulas de História do 9º ao 12º ano e dos ocasionais debates televisivos ou dos programas da especialidade, mas as nossas discussões giram essencialmente em torno de futilidades.

Partilho da opinião de que a sucessão de Barack Obama a George W. Bush na presidência de uma das maiores e mais influentes potências mundiais vai ser algo de bastante positivo, mais que não seja porque o primeiro é bastante charmoso enquanto que o Bush era um redneck nada atraente. Vêem…consegui falar da importância de Obama como novo presidente dos EUA sem mencionar a vitória de democratas sobre republicanos, a questão racial, as medidas por ele preconizadas para fazer face à crise económica ou Guantánamo. Não que não seja um assunto bem interessante que pode até ter sido mencionado entre um ou outro croissant no Magnólia, mas por vezes “aquela que anda com o outro, não sabias?” leva a melhor. E aqui o “por vezes” é um eufemismo.

Não seja então de esperar, pelo menos por enquanto, que este seja um blog com elevada carga política, porque aqui somos todos muito “anarco-comodistas”, como dizia o mais recente candidato à câmara de Lisboa e não temos ainda o hábito de discutir política. Apesar de justiça seja feita também sabermos falar de assuntos sérios e actuais não pensem cá que só vemos as Tardes da Júlia e os Morangos com açúcar! O tempo dedicado é que é ainda muito pouco

Talvez no futuro, seja feita uma ou outra observação perspicaz…sim, porque aqui ninguém anda a comprar o Courier por causa das fotos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Rácios de Actividade

Este é um começo de tarde que se espera produtivo. Um começo de uma tarde em que a ginástica mental deverá ocupar grande destaque e desafiar os mais elevados padrões de raciocínio.

Enquanto isso devia estar a estudar…que a bem dizer é o que me compete, principalmente na véspera de um exame. E o quanto antes, ou o Nespresso (what else?) de tangerina deixa de fazer efeito e aí é que são elas para evitar a todo o custo os bocejos constantes. Isto claro, se quero vir a ocupar, com sucesso, um alto quadro numa empresa inovadora, vestir hautte couture e ir de férias para Aspen com o meu namorado dez anos mais novo que é fotógrafo.

Está portanto na altura de tomar medidas drásticas. Vamos lá deixar as toillettes da Betty e da fashion community, fechar as janelas dos blogs avulsos, desligar imediatamente o computador e ir fazer fluxos de caixa e demonstrações de resultados.

Não importa que tenha já gasto a minha actividade mental recomendada, sim que isto do pensar também deve ter conta e medida, a fazer índices e taxas de variação ainda ontem.

Porque o trabalho não espera…e ninguém chega a ser um Cantigas Esteves sem ganhar calos no dedo do meio e ficar com o cabelo num desalinho de levar as mãos à cabeça na tentativa vã de analisar a variação do EVA.

Deixo-vos, mas apenas com o intuito de ir fazer pela vida.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Não ambiciono a perfeição mas há sempre aquele “se” permanente: ah se fosse azul em vez de amarelo; se fosse mais alto; se não tivesse aquele ar de parvo; se não tivesse namorada; se cortasse o cabelo; se fosse moreno de olhos verdes…

Se nos encontrássemos por aí, e ele falasse para mim, pedisse o meu número de telemóvel, convidasse para beber café, assim de uma forma natural-casual, sem stress, nada de segundas intenções no primeiro encontro. Sim, isso seria quase quase perfeito e altamente improvável. Se… se… se…
E se for eu a pedir o número? E a convida-lo? Oh… Não, nunca o faria.
Prefiro acreditar no acaso. Mas ultimamente (e recuso-me a especificar o “ultimamente”!) o acaso não tem estado de feição.
É... Tudo pode ser sempre melhor!
E sim, talvez ambicione uma espécie de perfeição, mas inconscientemente.
Todos ambicionamos.
Bem, mas neste momento bastava-me aqueles sapatos de salto alto pretos da H&M e "o" smart cinzento à porta do meu prédio, para o dono me levar ao cinema, à sessão das 9. Perfeito.

domingo, 11 de janeiro de 2009

L4yer Cake

Ontem esteve um dia frio e uma noite ainda mais fria. Esteve frio demais para grandes aventuras. Ainda estive para ir ao cinema…vestir o meu casaco mais quente, pôr um cachecol, vestir umas meias grossas, e enfrentar, de olhos semicerrados pelo vento, este frio cortante que dizem polar. Mas o quentinho da lareira e o conforto do sofá levaram a melhor.

Acabei a ver um filme de gangsters...E que filme de gangsters! Provavelmente um dos melhores filmes de gangsters que já alguma vez vi! Oh meus amigos e se eu vejo muitos filmes de gangsters…Bom, talvez não, mas que foi um bom filme de gangsters lá isso foi...

Com o singelo nome de “Bolo de Camadas”, do original Layer Cake (o quê? Uma tradução literal do título de um filme estrangeiro?! Em situações normais chamar-se-ia torta de Azeitão ou algo do género…) este filme é protagonizado pelo mais recente James Bond, Daniel Craig, do qual sou uma admiradora confessa, apesar dos argumentos contra dos meus amigos quando lhes tento fazer entender que, sim apesar de parecer um ucraniano, este homem loiro de orelhas grandes é bastante charmoso e o que eles têm é resistência à mudança.

O filme é bastante complexo, digno de nos deixar às aranhas quando tentamos compreender então mas afinal o que é que se passou aqui, deixa-me cá fazer rewind, e de nos espantar com a sua imprevisibilidade.
Falo por mim quando digo que não estava nada à espera do fim… Sim senhor, quando pensávamos que ia acabar de determinada maneira rematam com um final do género “então mas pensavas que isto acabava assim era? Então toma lá isto, para não pensares que és esperta”…

Já para não falar de tudo o resto que o filme tem de muito bom, desde as personagens e dos desempenhos dos actores à banda sonora É deveras impressionante o poder que este realizador tem de encaixar no filme músicas que são supostamente desajustadas à natureza da cena, o que confere de imediato uma maior dimensão …há algo melhor do que uma música de Duran Duran enquanto se espanca um pulha que nos arruinou a vida?! Segundo Matthew Vaughn, o realizador, não. O que faz lembrar outro grande filme, Snatch – porcos e diamantes que também contou com a participação deste produtor, em parceria com o ex-marido da Madonna, desculpem o Guy Ritchie.

A história gira em torno de um traficante que deseja reformar-se mas que vê os seus planos adiados ao ser recrutado para mais um trabalhinho

Enfim, um óptimo filme, que sugiro para aquelas noites frias de Inverno, em que não há nada melhor para fazer do que ficar nos sofá a comer bolachas e a ver filmes cheios de violência e cenas caricatas.

Se são daqueles que não apreciam este género de filmes devido ao excesso de violência e porque “ai faz-me impressão”, não querendo fazer juízos de valor, talvez seja melhor alugarem ou pedirem emprestado o Sorriso das Estrelas que conta com a interpretação do Richard Gere. Mariquinhas…