terça-feira, 28 de abril de 2009

Avant que j'oublie


Antes que me esqueça...este foi o primeiro filme do nosso indie lisboa (ainda sem o sabor adocicado da borla). Se forem todos assim, então a verdade é que não vai ser fácil esquecer...esperemos que existam menos burgueses homossexuais de meia idade nos próximos ou somos capazes de nos habituarmos ao deboche.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Imagina

Imagina que hoje acordavas e tudo corria como imaginas. O que eu quero dizer é que tudo corria como queres. Imagina. Acordavas e o sol brilhava radioso às dez e meia da manhã, sim porque mais tarde já é demasiado tarde e ninguém quer juntar o pequeno-almoço com o almoço. Lençóis para um lado, tapa-olhos-padrão-leopardo para o outro e ala que se faz tarde pés no chão e banho quente-frio, frio-quente para estimular a circulação. Vestes a tua roupa favorita, impecavelmente passada e cheirosa e penteias o cabelo irrepreensivelmente volumoso de jeitos rebeldes. Claro está que te despachas a tempo. Apanhas exactamente o autocarro que devias apanhar e surpresa das surpresas só há lugar ao lado daquele rapaz de cabelo sob o comprido e barba de três dias que partilha contigo os mesmos gostos musicais e o interesse pela fotografia. Sem dares por isso, já chegaram à gare do Oriente, logo agora que se iniciara um debate efusivo sobre perspectivas. Lá terão de combinar um café naquela esplanada à beira rio. Chegas à estação de metro cedo, tão cedo que podes ir de autocarro. Ninguém te passa a frente porque não há filas e sentas-te num lugar à janela. Passeias o olhar sobre a cidade, enquanto o i-pod parece adivinhar aquilo que queres ouvir.
Quando chegas à faculdade só vês quem queres. Pequeno-almoço com a malta do riso alarve e compulsivo, uma vista de olhos no diário económico e encontros totalmente inesperados com as tuas pessoas fetiche, com direito a efusivas conversas sobre gastronomia. As aulas passam a correr e quem diria que estratégia empresarial podia ser tão interessante? Almoças no teu restaurante favorito que num dia completou as obras que já contavam três semanas e como não tens trabalhos para fazer (nem monos a empatar) podes beber o teu café com duas pedras de gelo nas calmas enquanto conversas sobretudo sobre nada. À tarde dás uma oportunidade à miscigenação na tua esplanada favorita e voltas contente e feliz para casa sem seres importunada por junkies agressivos e ameaçadores. A energia mantém-se, jantas com o progenitor e como a noite ainda é uma criança pede que a embales com caipirinhas pretas e deambulações pelo teu bairro lisboeta favorito, ao som de novas músicas, novas línguas e novas boas ideias à meia luz dos candeeiros da rua. Imagina que hoje acordas e tudo corre como imaginas…Isso não deixaria pouco lugar para a imaginação?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Chuva miúda

Andar no bairro alto de dia, com um dia destes, cansa. Nem o bate-papo com os empregados das lojas mega-trendy-alternativas, nem a troca de palavras com os responsáveis olhos azul-água de cafés super zen nos valem com esta chuva miúda que tira personalidade aos cabelos. Finalmente encontrei a galeria ZDB. Mas o pessoal de macacão azul eléctrico intimidou-me e resolvi não entrar. Para a próxima não falha. Pode ser que esteja melhor tempo.

Páscoa

Esta foi uma Páscoa passada entre berros de desatino e correrias no quintal. Feita de tentativas falhadas de falar ao telemóvel enquanto nos gritam coisas do género “cheiras a cocó” e esforços sobre-humanos para manter a calma quando alguém nos pede pela enésima vez para ir jogar à bola e ameaça dizer ao papá que somos maus e egoístas apenas por tentarmos transmitir alguns conhecimentos futebolísticos. As saudades que até há bem pouco tempo eram tantas dão lugar a uma leve vontade de virar aquela pessoa que há dois minutos nos dizia que adorava e agora nos levanta provocante o dedo do meio, ao contrário, e andar com ela à roda enquanto gritamos “estica lá o dedo agora! Vá estica lá!”. Enfim, nada que uma sesta não trate e que um abracinho apertado e umas palavras doces acompanhadas de um sorrisinho meigo não façam esquecer…pelo menos até que a pessoa em causa acorde despenteada e enérgica no seu pijama azul-cueca e se ponha a dançar em frente à televisão mesmo na tal parte em que o Bill Murray sussurra ao ouvido da Scarlet algo que não percebemos bem o que é e que a nós apenas nos soa a um “vou desligar a televisaaao lalala”, risonho e desafiante do nosso querido primo.
Tirando isso, pode dizer-se que foi uma Páscoa bastante calma...




terça-feira, 7 de abril de 2009

Fado e chouriço assado

Se o senhor João mandasse, metade das pessoas sentadas naquela tasca nem metia lá os pés! Sim…porque se o Sr. João mandasse só lá entrava gente boa e miúdas bonitas (não necessariamente por esta ordem). Se o Sr. João mandasse, diz o senhor João, havia de oferecer a próxima rodada. Mas aqui para nós que ninguém nos ouve, toda a gente sabe que o Sr. João gosta é de gente que paga…o pão, o chouriço, o queijo e o vinho… que a vida não está fácil! Ainda para mais para alguém que faz cinco anos foi operado às ancas, um brinde a isso! Venha de lá mais uma imperial que a boca já está seca. Enquanto vem e não vem oiçamos então um fadinho. Aqui na mesa privilegiada do cantinho, onde há petisco, há poetas, há bom vinho! E se a ideia foge para a rima então só pode ser da inspiração…que vem de passar uma noite com fadistas d’alma e coração. Versos fáceis aparte…deixem-me que vos diga que vai ser difícil conter o sorriso de orelha a orelha sempre que me lembrar da noite de ontem, em que o fado vadio, as pessoas e o belo do petisco fizeram as honras daquela tasca em que a vergonha fica à porta, e de mente e peito aberto, à boa maneira do fado, nos sentamos, cúmplices, lado a lado nos bancos corridos, à conversa com pessoas vindas de Alfama à Madragoa, deste ao outro lado do mundo. Tão cedo vai ser difícil superar um serão passado ombro a ombro com o atrevido Sr. Beijocas. “E agora, o vosso silêncio por favooor, porque o vosso silêncio é muito importaaante! Obrigaaada…”

Ah fadistas…

sexta-feira, 3 de abril de 2009

P’ra lá de ti não existe nada. Antes (?). Antes, sim, existe. Existe tanto antes de chegar a ti. Mas quando se chega o que fica é quase nada. Eu cheguei. Fiquei com quase nada, prossegui e perdi o quase nada que me restava. Eu sabia que seria assim. Tudo aconteceu como planeei. Eu planeei o meu percurso conturbado. E todas as conturbações estavam no meu plano, evidentemente! Não foste tu que decidiste, que provocaste, que causaste os danos. Nem era tua intenção. Era minha, a intenção. Fui eu que decidi, que provoquei, que causei. Segui à risca o plano que tracei. No entanto o meu plano tem uma falha, falta-lhe o factor tempo. Esqueci-me de definir quando acaba…