sexta-feira, 22 de maio de 2009

Queques de Laranja

Vou sentir saudades daquele restaurante na Lapa. Tão chique que sou, ou era, ou fui e vou deixar de o ser, agora que acabaram os almoços com os Noronha, os de Andrade, os Breyner e os Lobo Antunes, lado a lado como que almoça com um qualquer Silva.
A sangria branca e os croquetes da despedida, partilhados com as companheiras dos dias duros de trabalho árduo, souberam-me agridoce. O queque feito de nuvens de laranja espera, na cozinha, que o devore. Estou sentimentalista. Vão-me fazer falta as Carlotas, as Beneditas, as Pipas e os Fredericos de cabelo desgrenhado que selvagens corriam pelo restaurante gritando exigências às tias que são só amigas das mães. Vão-me fazer falta as incoerências da Dona Rosa Loira que ora servia bem ora servia mal, os mini-pratos de iguarias gourmet acompanhados de copos de água. A ausência, à hora de almoço, de senhoras finas de capacetes brancos, da rudeza chique da fala de Cascais e de vedetas de sexualidade alternativa vão dificultar imenso as conversas da tarde, tá a ver? Já para não falar da incerteza do amanhã e do receio que, logo agora que aprendi a prolongar o final de cada frase e passei a tratar as minhas amigas por você, me espere um regresso à negra fase dos tascos e do bife com ovo a cavalo. Vai ser difícil passar sem aquele restaurante na Lapa, agora que acabaram os trabalhos, os testes e as aulas, e o futuro aproxima-se a passos largos sem que se justifique tal urgência. Mas o que vai ser mais difícil nisto tudo é saber que no fim de um esforço imenso, não nos espera, paciente, prometedor e fofo, um bolo numa caixa.

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