domingo, 14 de junho de 2009

Sardinhas & Manjericos


Numa romaria a seco iniciámos mais uma noite memorável, na noite que é desse santo do menino, do hábito e dos casamentos colectivos, padroeiro da nossa Lisboa. A verdade é que tenho um carinho especial por esta noite das marchas e da sardinha, da ginga e da cerveja. Dos abraços apertados dados a pessoas que naturalmente nos desaparecem e por quem sentimos uma saudade momentânea, quando mais magros, mais bonitos ou na mesma, se cruzam com o nosso alter-ego embriagado e sentimentalista. Gosto genuinamente desta noite que se quer popular, e em que há desculpa para conversas familiares com estranhos sobre ensaios do rancho da sociedade recreativa de Arcos de Valdevez, mensagens embaraçosas, danças frenéticas ao som de música ligeira espanhola, conversas brejeiras, gestos abusadores e inofensivas invasões da privacidade alheia bem como todo um rol de situações que, em situações normais, nos deixariam com as mãos a tapar a cara num gesto de vergonha incontrolável. Gosto de toda aquela agitação. Agitação nas ruas, nos outros e em nós próprios, impulsionada por um consumo exagerado de álcool que une trolhas e taxistas, vendedores de sardinhas e estudantes. Gosto do sentimento colectivo de festa e da necessidade geral de dizer mais que a conta, de deixar escapar verdades, vontades ou sentimentos, de meter a pata na poça, o pé na argola. Gosto desta noite por ser uma noite única, e incomparavelmente catártica, em que nos deixamos levar com a música e o reboliço das gentes, empurrados por caminhos apertados, de pés pesados e vontade flutuante, em que só de manhãzinha, chegados a casa de outro, damos conta que trouxemos na mala um conjunto de chávena e prato de uma qualquer marca de café de topo.

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