terça-feira, 12 de maio de 2009

Gregor Samsa


Sábado passado fui ao teatro com uma intenção perigosa…A de deixar-me surpreender pela adaptação à arte dos palcos de um dos meus livros preferidos. Quando entrei na sala era de facto surpresa o que me aguardava. No meio do palco, um homem, vestido de preto, permanecia imóvel deitado dentro daquilo que parecia uma cápsula espacial. Depois de muito procurar, questionar e pedir por favor podia deixar-me passar, sentei-me, finalmente, na cadeira que me pertencia. À minha volta outras pessoas, igualmente desprevenidas, louvavam o feito desse homem de preto que teimava em permanecer quieto, e comentavam “e se lhe dá vontade de coçar o nariz?!”. Não deu. A peça foi chata, com direito a uma ou outra gargalhada sincera e muitos bocejos. Só Gregor, o escaravelho charmoso de jeito afectado, dava algum alento aquela tentativa de transformar um livro genial naquilo que fazia lembrar um filme de anime japonesa. Talvez corra o risco de ser injusta (que importa?) e a peça não seja assim tão má, mas não gostei que brincassem de forma descuidada com um livro que me foi tão querido… companhia de manhãs de hora de ponta, quando ainda marcava presença nos requisitados catamarans, sentada entre trolhas, estudantes, mulheres-a-dias e outros profissionais de índole menos comum, parecendo muitos deles também vítimas de alguma espécie de metamorfose.

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