sexta-feira, 13 de março de 2009

Sobre o Sol e o Calor

Os dias começam a prometer coisas. Cedo. Bem mais cedo do que quando ainda de noite apanhava o metro. Por essa altura os dias só começavam as suas leves promessas mais ou menos pela zona do Cais do Sodré. Agora não. Agora quando rumo à margem norte do rio Tejo já aquele sol tímido da fronteira entre a manhã e a madrugada espreita num irrepreensível céu azul claro. Mesmo quando com as chaves numa mão e as bolachas integrais na outra, fecho com um puxão a porta de minha casa, ao mesmo tempo que vindos de quem sabe onde, outros rodam a chave para abrir e entrarem, cansados, satisfeitos, a custo, pelas portas das deles.

As tardes aquecem. Por volta do meio-dia já se torna difícil manter os casacos vestidos. A sede passa a ser a companheira dos passeios chiado acima, chiado abaixo. Nas aulas ouve-se um burburinho mais acentuado, e as cabeças rodam em direcção às janelas, fossem aquelas no rés-do-chão e as mini saias e a airosa passagem da gente em manga curta o acentuaria ainda mais. As pessoas juntam-se nas esplanadas, e as conversas tornam-se tal e qual o tempo, acaloradas. Reparo neste, naquele e no outro, enquanto através dos óculos de sol, mais ou menos discretos, outros fazem o mesmo.

As noites convidam. A gozar concertos, a beber um copo, a conhecer pessoas. A passear pelas ruas, acompanhada. A ir de tarde, a vir só de madrugada. Os serões pedem bate-papo de pés descalços nos sofás, nas cadeiras das varandas e às mesas dos quintais, com aquela musiquinha exótica a tocar no rádio, como banda sonora de conversas banais.



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