sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Tipo


São dez e doze. Dormir sete horas é imprescindível, sobretudo se amanhã quero acordar cedo. Bem cedo para ouvir a professora de voz monocórdica anunciar os grupos e os seus trabalhos. Bem cedo para ouvir as argumentações mais ou menos sustentadas, reparar nos tiques nervosos, no esbracejar dos mais extrovertidos e com sorte ver o tipo do norte que veio para o litoral de calças justas e atitude de macho latino. Com sorte vejo esse tipo apresentar o trabalho dele, nas suas calças justas. Com a sua atitude de macho, latino. Não me deixo enganar pelo jeito seguro com que enverga as calças justas, a atitude essa, me encanta, mas não lha acredito. É um punk, um rufia, um quantos-são-venham-eles, cujo à vontade não me convence. Tímido, tímido demais para se assumir como um. Não me engana. Não é macho e de latino tem pouco. O tipo que quer que a região passe a país e de país passe a planeta. É um extremista é o que é. Um extremista que não me convence. Não gosto por aí além de extremistas, sobretudo se usam calças justas. É um rufia é o que é, aparentemente seguro e macho com as suas patilhas bem grandes. Como se a masculinidade de um homem se medisse pelas patilhas. É extremista o tipo das calças justas, extremista até nas patilhas. Não gosto de patilhas grandes. E também não gosto que o tipo extremista das calças justas e das patilhas grandes passe e finja que não vê, que evite grandes conversas, no seu sotaque de macho, latino. Mas nisto já são dez e meia e tenho de me ir deitar porque amanhã tenho de acordar cedo. Bem cedo, para ouvir a professora de voz monocórdica anunciar o grupo do Tipo que veio do norte para o litoral nas suas sugestivas calças justas e com o seu ar diferente, de macho. Bem cedo, para no meu jeito de quem não se importa e olha para o lado como quem não vê, assistir numa distracção encenada à apresentação daquele Tipo…que num masoquismo infantil, gostava que me deixasse deliciosamente arruinada.




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