sábado, 20 de junho de 2009

La Mala Educacion


Decidi dar uma nova oportunidade a Almodóvar. Depois da sensação de perda de tempo que me tinha deixado “Kika”, achei por bem permitir a este realizador espanhol que me voltasse a surpreender, como tinha feito com “Tudo sobre a minha mãe” e “Mulheres à beira de um ataque de nervos”. Preparada física e psicologicamente para uma sucessão de cenários em cores berrantes e cenas homo-eróticas, prendi os cabelos com uma flor enorme e refastelei-me no sofá da sala com as janelas abertas em par. O calor estava a pedi-las. Durante todo o filme não consegui tirar os olhos do ecrã, muito por culpa, admito-o, de um Gael Garcia Bernal, moreno e semi-nu que se passeava, provocante, entre junkies e travestis mas, também por uma estória, deliciosamente filmada, que em nenhuma circunstância me fez desviar os pensamentos para o que iria fazer a seguir ou o que seria amanhã o almoço…Valeu a pena fazer as pazes com Almodóvar.

domingo, 14 de junho de 2009

Sardinhas & Manjericos


Numa romaria a seco iniciámos mais uma noite memorável, na noite que é desse santo do menino, do hábito e dos casamentos colectivos, padroeiro da nossa Lisboa. A verdade é que tenho um carinho especial por esta noite das marchas e da sardinha, da ginga e da cerveja. Dos abraços apertados dados a pessoas que naturalmente nos desaparecem e por quem sentimos uma saudade momentânea, quando mais magros, mais bonitos ou na mesma, se cruzam com o nosso alter-ego embriagado e sentimentalista. Gosto genuinamente desta noite que se quer popular, e em que há desculpa para conversas familiares com estranhos sobre ensaios do rancho da sociedade recreativa de Arcos de Valdevez, mensagens embaraçosas, danças frenéticas ao som de música ligeira espanhola, conversas brejeiras, gestos abusadores e inofensivas invasões da privacidade alheia bem como todo um rol de situações que, em situações normais, nos deixariam com as mãos a tapar a cara num gesto de vergonha incontrolável. Gosto de toda aquela agitação. Agitação nas ruas, nos outros e em nós próprios, impulsionada por um consumo exagerado de álcool que une trolhas e taxistas, vendedores de sardinhas e estudantes. Gosto do sentimento colectivo de festa e da necessidade geral de dizer mais que a conta, de deixar escapar verdades, vontades ou sentimentos, de meter a pata na poça, o pé na argola. Gosto desta noite por ser uma noite única, e incomparavelmente catártica, em que nos deixamos levar com a música e o reboliço das gentes, empurrados por caminhos apertados, de pés pesados e vontade flutuante, em que só de manhãzinha, chegados a casa de outro, damos conta que trouxemos na mala um conjunto de chávena e prato de uma qualquer marca de café de topo.