segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Quintal

Acordei tarde e a más horas, período iniciado por volta das onze e meia da manhã e prolongado por aí fora até que não seja possível comer fatias douradas ao pequeno-almoço. Penteie como pude os cabelos revoltos por voltas a mais na almofada e sonhos que fariam corar Freud, e desci as escadas com pezinhos de lã, ao que escadas não fizeram caso e rangeram indignadas. Fiz um mokambo forte e saí para o jardim...Da última vez que ali estivera ainda os arbustos secos tinham flores e as árvores frutos e fiquei muito espantada na minha condição de nova rapariga do campo com toda aquela revolução. O cenário pareceu-me muito desolador e dada que sou a melancolias parei um pouco para pensar nas coisas que passaram, mais as coisas que hão-de vir, um emaranhado de gentes e coisas que me encheu a cabeça ensonada. Passaram-me à frente dos olhos uns flashbacks manhosos dos tempos em que chegada sabe-se lá de onde, aterrei nesta minha terra por empréstimo. Abanei a cabeça, reprovadora, face àquela miúda tão dada a convívios embriagados com a gentes da terra, tão crédula face à promessa de aventuras numa vila fronteiriça e a quem os vocábulos próprios e o sotaque típico pareciam um linguajar exótico de uma Vera Cruz por descobrir. Lembrei-me vagamente, pela minha rica saúde, dos dramas e das fitas originadas pelo efeito novidade da chegada de uma forasteira cheia de boas intenções. Deu-me uma leve saudade dos concertos clandestinos de bandas de covers nas fumarentas caves das sociedades recreativas e dos jantares de cerveja barata e febras na brasa. Recordei sem custo as conversas sobre as personagens da terra, os escândalos e as estórias embaraçosas de uns e outros cujas caras desconhecia. Vieram-me à lembrança as noites quentes de Verão e as deambulações por ruelas cheias de um charme pitoresco e acolhedor, de braço dado e coração cheio com...foi nesse preciso momento que farta de tantas memórias de coisas e gentes não tão distantes quanto isso sacudi insistentemente as imagens que se seguiram com um gesto enérgico da minha mão livre. Parei de pensar porque já se fazia tarde e voltei para dentro de casa, convencida de que, por enquanto, este Alentejo cabe todo no meu quintal.

domingo, 7 de novembro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Espécie de evolução

Estive a olhar para aquela nossa fotografia que nos causa um misto de contentamento e embaraço. Embaraço por sabemos que já fomos assim e contentamento por agora sermos de outra maneira. Pergunto-me se mudou assim tanto para além do corte de cabelo e do estilo de roupa que se limitava a riscas coloridas sob casacos que deixavam um rasto de pelo sintético onde quer que nos roçássemos. Feliz, ou infelizmente, não nos andávamos a roçar em muitos sítios. Se é verdade que o meu cabelo deixou de ser uma mistura entre os New York Dolls e a Madona dos anos oitenta e que descobri vida para além de um par de all stars gastos, também é verdade que não me abandonou o gosto por acessórios dourados e brilhantes nem tu deixaste a tendência para o roxo e o lavanda mais os óculos de armações excêntricas. Podemos dizer que nesse aspecto, sempre nos mantivemos fiéis a nós próprias. Dou o braço a torcer, se houve coisa que estes anos de convivência com gente bem que come bolachas a quinze euros o quilo nos ensinaram, foi sem dúvida um melhor gosto nas indumentárias. Tirando isso e o facto de hoje em dia ser uma pessoa que diz encarnado em vez de vermelho, estes anos de faculdade em pouco corresponderam aos meu sonhos de estudante do secundário de escola dos subúrbios que achava que por volta dos dezoito anos já teria casa no bairro alto, um namorado barbudo e um grupo de amigos intelectuais mas divertidos com quem poderia discutir kafka (sendo esta última parte algo que resolvi acrescentar para pensarem que aos dezasseis anos já era uma pessoa interessante). Escusado será dizer que nada se passou como imaginara e que o mais perto que estou de ter casa própria em Lisboa é aquele colchão que tenho carinhosamente reservado para mim algures em Alvalade. Mas agora que penso, não trocaria as estórias que fui coleccionando, ou as pessoas que conheci, por nenhum grupo de estudantes de artes com queda para a literatura. Bom, na realidade tavez trocasse uma ou duas...
Muita coisa aconteceu, desde a época em que tirámos aquela fotografia e em que o expoente máximo da nossa atitude boémia era bebericar um storia del cafe e falar dos rapazes giros que conhecíamos nas noites loucas das festas académicas ou das nossas aventuras no marretas.
Cafés fecharam, tornámo-nos mais sofisticadas, descobrimos novas formas de assemelhar a nossa vida a um filme indie e eu deixei de dar abraços a desconhecidos quando bebo mais que a conta para passar a fazê-lo somente a gente que conheço bem, ou mais ou menos...Mas, se queres que te diga, continuo a reconhecer-nos perfeitamente e sem esforço, nessas miudas despentadas de blusa às riscas da foto.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

É tarde.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Conta-me Estórias: A vida é um milagre

O bolachas já pedia um espaço de cinema, mais que não seja porque aqui todos gostamos que nos contem estórias...


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Gestão de Expectativas ou A Analogia das bolas de Berlim do Sr João Pinto da praia de Carcavelos

Imagino que o Sr. João Pinto acorde de manhã muito cedo e se levante da cama num salto. Aposto que faz todos os dias a barba, toma banho dia-sim-dia-não e que se demora a saborear o seu pequeno-almoço de sopas de pão da véspera migadas em café com leite, com os olhos perdidos nos azulejos da cozinha. Enquanto isto a sua esposa, a senhora Pinto, acaba de fritar as bolinhas de Berlim que o senhor Pinto leva bem aconchegadas na maleta branca com o seu nome escrito a letras encarnadas para vender aos banhistas da praia de Carcavelos. Tudo pronto, o senhor João dá um beijo na esposa, muito embora eu desconfie que este senhor é mais adepto do açoite carinhoso no rabo, e sai porta fora cantarolando um fadinho do Alfredo Marceneiro ou uma outra música qualquer daquelas que ficam na cabeça. A partir daí já não é preciso imaginar mais nada. Toda a gente sabe que o senhor Pinto corre a praia de Carcavelos de lés a lés a apregoar as suas bolas de Berlim fresquinhas. O que ninguém sabe e nem o próprio Senhor João Pinto desconfia, é que as suas bolas, salvo seja, são a analogia perfeita* para explicar a razão das melancolias quotidianas que nos assolam o espírito por dá cá aquela palha. E que razão é essa, perguntam. E eu respondo, má gestão de expectativas, claro. O nosso problema é que mal nos dizem que algo é bom temos tendência a exagerar nos beneficíos esperados...Tal e qual como acontece quando o senhor João Pinto nos diz que tem as melhores bolas de Berlim da região e bla bla bla e nós aguardamos, pacientemente, esperamos que ele atenda as outras pessoas, faça troco de vinte euros, deite conversa fora com a quarentona do bikini às flores, leve tempos infinitos a procurar os guardanapos, tudo para saborear aquela bola de Berlim com creme que…afinal não é assim tão boa e para mais ainda nos deixa mal dispostos. Se querem ter supresas agradáveis e pôr fim a crises de nervos e choros compulsivos, dores de barriga e nós garganta e todas essas coisas que muito embora tornem a vida mais emocionante e digna de conversa criam uma sensação muito desconfortável que às vezes, simplesmente, não dá jeito nenhum, não acreditem quando vos dizem que algo é muito bom e desconfiem do que vos parece muito interessante para depois no fim ser um bocado parvo e mastigar de boca aberta...O segredo está no cepticismo! No franzir o sobrolho quando alguém vos diz que um filme é muito bom, que vão adorar o jantar ou que gostam muito de Pink Floyd...E dito isto vão lá vá, baixem-me essas expectativas e sejam felizes! Agora, não me venham pedir satisfações quando me encontrarem sentada à beira mar com um ar enjoado e açúcar nos cantos da boca…

*encontrada por alguém que, à semelhança de muito boa gente, não tem nada melhor para fazer do que pensar na vida (característica comum a quase todos os génios)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Num Paço pouco apressado

terça-feira, 29 de junho de 2010

Essa daqui é pra você...
que ainda está a uns bons capítulos de uma àgua de côco.

sábado, 26 de junho de 2010

Espanhol para principiantes

Como qualquer português que se preze também eu estava convencida de que sabia hablar español, por supuesto. Logo eu que sou tão dada a línguas, as estrangeiras e as outras, criada com um pé em Badajoz e um ouvido na Cuarenta FM, entusiasta admiradora de Almodóvar, tapas, cañas e roupa com bolas. Certa de que gesticular efusivamente, pôr uma pose de matadora e elevar o volume de voz acabando todas as palavras com um “sss” arrastado era algo que fazia de mim uma quase nativa da língua de Picasso e Miró. Ainda assim, com o desejo de colmatar eventuais falhas que ainda não estava completamente convencida que possuía, lancei-me na aventura de um curso de espanhol…para principiantes. Arrastando comigo alguém bem mais modesto mas não menos entusiasta que vos poderá assegurar que um curso destes não é para todos. Pois não, é para principiantes, dirá algum engraçadinho. Vale! Mas apenas para principiantes com um perfil muito preciso e especial. A saber, o futuro aprendiz de espanhol inicial nível 1 deverá ser uma daquelas pessoas que acordam às sete da manhã num Sábado, cheios de felicidade e contentamento por estarem vivos que cantam no chuveiro e não se importam mesmo nada de andar de metro aos fins-de-semana com um sorriso na cara e uma predisposição para conversas formadas por algo mais que monossílabos. Deverá ainda, possuir um controlo apertado do riso compulsivo e nervoso e não roncar ou chorar quando confrontado com alunos do género masculino que admitem ler a revista Maria e reviram os olhos cada vez que dizem palavras com uma forte presença do som jjjj (exº. trabajo). É altamente desaconselhado tanto a pessoas sensíveis ao estilo dos outros que não vêm com bons olhos tatuagens estranhas e penteados exóticos, como a pessoas facilmente impressionáveis para quem diferente é sinónimo de interessante mesmo que não seja bem assim. Por último, o possível estudante deverá ser, preferencialmente, esquisitinho com a comida bem como forte ao ponto de não sacrificar as suas suadas sessões de elíptica no ginásio por um hamburguer com tudo.
Se não possuis nenhuma destas características não te aflijas, nós também não.
Mas fica sabendo que se alguma vez alguém te disser que entonces, por díos! aprender espanhol é fácil, esse alguém nunca frequentou um curso de espanhol para principiantes.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Namastê, ó palerma

Quando Raman Khanma me esticou o seu DVD promocional, como forma de agradecimento por ter sido tão simpática e prestável, ainda eu não me esquecera de como, apenas um dia antes, tinhas arruinado esta coisa do...tu e eu. Enquanto acedia gentilmente a tirar uma fotografia com a entusiasta vedeta, dei por mim a imaginar-nos num cenário exótico de canções de amor e danças extravagantes. Bailarinas rodopiavam em segundo plano nas suas vestes de cores garridas e elefantes vagarosos passeavam numa paisagem idílica de vegetação selvagem. Havia grandes números de danças coordenadas ao som de tamburas e oboés e close-ups à minha expressão melancólica e chorosa e ao teu ar sofredor mas decidido.
Tão depressa estávamos num palácio ricamente decorado, comigo a declarar como te achava tanta piada com gestos de cabeça bamboleantes, como no momento seguinte já nos encontrávamos no cimo de uma montanha onde tu, em voz de falsete, me explicavas como a tua família nunca aceitaria que fosses beber uma imperial comigo. Tinhas vestido uma túnica branca e deixado crescer o bigode e eu agradecia a Ganesh por me ter feito tão gira. Que parvoíce! Gritei a certa altura, irritada. E à minha volta ninguém percebeu de onde viera repentina indignação. Abanei a cabeça e pensei para comigo… que se existia alguma semelhança entre esta nossa realidade e um clássico de Bollywood, só a encontrava na escassez de contacto físico.

sábado, 8 de maio de 2010

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Fujo por momentos à responsabilidade de reorganizar o meu espaço e tempo, de voltar à dança sincronizada dos dias e das horas. Entrego-me um pouco mais à preguiça, enquanto faço orelhas moucas ao chamamento aflito e urgente das obrigações. Saem-me caros os momentos em que, num desejo de algo mais, ouso enganar esta minha rotina, de transportes públicos e horas certas para dormir e acordar. Ficam num desalinho o arquivo, numa desordem os apontamentos, desregulado o sono e o trânsito intestinal. Já para não falar das ideias, que a muito custo lá vão largando o braço às oportunidades e voltando ao objectivo concreto do quotidiano. Tudo à minha volta continua em stand by, enquanto me queixo a quem me queira ouvir da quantidade de coisas que tenho para fazer…Mas o pior nem é este caos pouco calmo de pó nos móveis e roupa para lavar, é sim esta relutância, esta preguiça e falta de vontade de me pôr no meu lugar…

sábado, 10 de abril de 2010

Esse papo seu já está de manha...

Mal saíste porta fora em direcção à noite abafada, dei meia volta e dirigi-me à cozinha. Dos palmiers de canela que te dei a provar, como início da nossa longa noite gastronómica, só sobraram migalhas caídas aqui e acolá ao longo da bancada de mármore. Pus-me a fazer algumas contas de cabeça e conclui que no dia seguinte teria de nadar pelo menos duas horas em mariposa para conseguir queimar o pão de alho. Olhei-me no vidro espelhado do micro ondas e reparei com espanto nos lábios vermelho escarlate que, lembro-me agora, resolvi pintar a meio da nossa conversa, certa de que me daria um ar boémio condizente com a voz do Caetano e o café importado. Pensei para comigo que tinha sido mais uma daquelas noites tão essenciais à nossa saúde mental. Em que nos perdemos numa espécie de improviso, e em que, tal e qual dois actores multifacetados, passamos por todos os géneros possíveis, da comédia ao drama, sendo permitido aos mais atentos ler nalgumas das nossas expressões faciais até um pouco de terror. Abafei uma gargalhada ao lembrar-me: de um lado tu, esbracejante e de olhos muito abertos, a confessares-me como há não muito tempo eras tão louca e agora não sabes bem como, te vês assim tão constantemente aborrecida; do outro lado eu, a lamentar-me do que não fiz, do namorado africano que por pouco não tive e das férias que poderia estar agora a gozar na Galiza. Nós as duas, em voz muito alta e em simultâneo, qual duas chicas Almodovar, encorajadas pelos sucessivos copos de licor...a tentar achar uma causa possível para a falta de agitação dos últimos tempos. E então, o clímax dramático, em que de olhos perdidos num ponto imaginário do sofá, uma de nós se lembra que não faltará muito para que se comece a fazer sentir a força da gravidade e aí é que vão ser elas para arranjar quem nos dê continuidade à genética. (Tontas, que bem sabemos que a resposta para tudo está em não pensar em nada).
Sacudi as migalhas para a mão aberta em concha e deitei-as no lava loiças. Fui deitar-me. Calma e certa de que enquanto a emoção tarda e não vem….ao menos teremos sempre estas noites reconfortantes de chili e panaché.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Volto já

Só por aqui parei para limpar o fundo ao frasco, sacudir o pó das prateleiras e arejar este espaço onde se começava já a sentir o cheiro mofo e a bolachas bolorentas. Num gesto muito parecido ao daquelas pessoas optimistas que gostam de mudar a posição dos móveis, deitar fora as coisas velhas e abrir as janelas de par em par, para que, enquanto cantam um fadinho alegre, o sol entre vadio e se deixe cair nos azulejos frescos. Ou de uma outra forma qualquer, que esta sempre foi uma das minhas imagens de felicidade. Só por cá passei para pôr ordem na casa…estou com muita pressa. E mesmo que não a tivesse só vos podia falar destes dias-sim dias-não de Primavera, mais ou menos parecidos uns aos outros, alternadamente. Em que o ar se enche de doces possibilidades com a mesma intensidade com que se enche de fenos e outras partículas alérgicas esvoaçantes. Não me posso demorar. Nem perder-me ou divagar sobre estes dias me darem tanta vontade de ceder aos pequenos caprichos, às grandes vontades, de fazer o gosto ao dedo e já agora ao resto do corpo. De empreender em grandes aventuras ou render-me a uma preguiça contagiante de olhos perdidos no céu sem nuvens, e outras coisas igualmente poéticas e pirosas. Tenho mesmo de ir... andando. Deixar para outro dia o relato de como tenho gasto estes dias com o prazer sem culpa da gente despreocupada. Uma praia aqui, um gelado acolá, um passeio demorado sem horas para voltar, dizendo não obrigadinha a responsabilidades e obrigações. Talvez seja por isso que…desculpem lá mas não tenho tempo para conversas. Tenho muito que fazer. Ora adeusinho.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Gregos e Troianos

Passamos metade dos nossos dias a tentar agradar a alguém.
E mesmo quem, neste preciso momento, fez um sorrisinho de escárnio e soltou um “deves!”, para além de, muito provavelmente, habitar na margem sul, está pura e simplesmente a tentar negar o inegável. É esta a dura realidade meus amigos. Sem que sequer nos demos conta, o que os outros dizem, disseram, ou vão dizer, já afectou de tudo um pouco no nosso pessoal e intransmissível quotidiano, desde o que comemos ao pequeno-almoço (já ninguém come estrelitas) ao nosso penteado (ficas muito melhor com risco ao lado). E se há, quem o assuma de ânimo leve, e tente contornar este condicionamento para uma vida feliz com ocasionais laivos de loucura social como cantar no metro ou usar aquelas calças vermelhas que fazem o rabo maior, outros há que ainda pensam que agem com total liberdade de movimentos e sem pensar… no que os outros pensam. Sem querer ferir a susceptibilidade dos meus caros leitores, conheço um adjectivo aplicável a estes últimos: ingénuos. Ok, está certo, não digo que talvez, um dia,não tenha existido alguém que tenha vivido na mais perfeita harmonia consigo mesmo sem mudar o mais ínfimo pormenor da sua primitiva existência por influência de outrem…mas é possível que esse alguém vivesse numa gruta, sozinho.
Penso que já deu para perceber que sou uma influenciada, umas vezes mais outras vezes menos, relutante no entanto em ceder às opiniões pessoais, sempre sinceras, soltando um ocasional fuck social graces! e empreendendo em situações e atitudes só permitidas aos que se esforçam por viver uma vida, louvável de "don't know, don't care".
E mesmo sabendo que são esses os meus melhores momentos, aqueles dignos de uma curta-metragem a fazer lembrar um anúncio de cerveja, e que só aconteceram porque cortei as amarras que me prendiam às convenções sociais, como quando dou por mim a dançar freneticamente como que possuída por um espírito tribal, ou a rir e a contar piadas muito alto, ou a admitir gostar de algo que ninguém gosta, a verdade é que mais tarde ou mais cedo, alguma opinião mais acutilante vai, inevitavelmente levar-me a questionar certas coisas que tinha, bem, certas. E se me orgulho disso? Nem pensar! Luto contra tal com todas as minhas forças, positiva que estou desde a minha infância que me devo manter sempre fiel a mim mesma…
Além do mais sei bem que essa uma luta dificil, que requer agilidade mental e forte visão estratégica! E para o provar aqui estou eu... a escrever um texto impulsionado pelo simples facto de alguém (plural, singular, que importa?) não ter gostado lá muito dos meus últimos textos.
Oops, I think did it again…

sábado, 13 de março de 2010

Kiabos

Sentada numa esplanada com vista privilegiada sobre a cidade, comia um croissant de chocolate e tentava não pensar na vida. Ao meu lado, outra daquelas pessoas introspectivas fazia o mesmo enquanto bebericava uma limonada. Migalhas caíam-me traiçoeiras dos lábios para a camisa de gola alta sufocante e desta para as calças alcançando só a muito custo o chão. Soprava uma brisa ligeira que fazia os cabelos esvoaçantes em direcções contrárias encontrarem-se num ponto comum: o molho de chocolate. Alguns pegavam-se em conjunto com as migalhas aos cantos da boca. O silêncio era tão só o mastigar crocante e o amachucar da palhinha com os dentes. No largo reinava uma agitação muito pouco agitada para um dia quente, como aquele. Nada nem ninguém fazia intenção de perturbar a quietude que fazia lembrar uma tarde de Domingo. Passaram um casal, dois turistas, um cão e o seu homem, uma rapariga e três estudantes Erasmus. Nove pessoas e um cão. Demorei-me em todos os seus detalhes. Ao meu lado alguém fixava um copo vazio de limonada e por pouco não alcançava o objectivo de pensar em nada. Voltou a passar a rapariga, passou também um apresentador de televisão. Não me pareceu muito feliz, nem contente. E se alguém que vê beleza numa maçaroca e num kiabo não passa contente…como se pode alegrar a gente?

domingo, 28 de fevereiro de 2010

I can go...with the flow?!

Aqui se escrevem textos de filosofias simples ou até sem filosofia alguma para aqueles que não vêem nas nossas inquietudes questões de elevada importância. Tão ao contrário de nós mesmas, que em jeito de gente despreocupada arranjamos nas coisas quotidianas motivos de sobra para nos inquietarmos. Se são sintomas de adolescente tardio ou de crianças teimosas ainda na idade dos porquês, ou muito simplesmente uma necessidade de divagar sobre assuntos de ordem menor, isso…bom, isso já foge muito do simples objectivo de escrever porque sim. Feita esta pequena introdução tão pertinente quanto desnecessária, prossigo para o desenvolver de mais uma questão que me assola de forma constante o espírito sem que alguém, desde Freud a Júlia Pinheiro, me consiga fornecer uma qualquer resposta satisfatória. No meu dia-a-dia, confrontada com as mais variadas situações, pergunto a mim mesma se a melhor opção será a)deixar andar, b)insistir até obter o que quero, género vendedor de tv por cabo, c)nenhuma das anteriores. Deixemos a última opção de lado e concentremos a atenção na a) e na b). Muitos dos que estão a ler este texto já formularam nas suas geniais cabeças uma resposta aparentemente válida. Pois deixem-me que vos diga que “depende” é muito fácil de dizer e muito difícil de pôr em prática, (além de que se insere na terceira opção)! Pelo menos para mim, que quando adopto uma dessas opções “dependendo” da conjuntura, me mantenho fiel à escolha durante muito pouco tempo, incapaz que sou de lidar com as minhas frustrações ao melhor estilo Woody Allen. E falo de coisas importantes, afinal todos sabemos que se queremos muito aquele último queque de laranja temos de agarrá-lo com unhas e dentes, nem que seja preciso atropelar aquela senhora de idade com sacos de compras no caminho mas, poucos conseguimos perceber até que ponto, apesar da forte vontade de ir a concertos de bandas de tributo com aquela pessoa, não será melhor deixar andar…Lembro-me até de uma vez em que, centrada que estava neste assunto, achei ter chegado a uma conclusão, que afinal mais não era que um “depende” disfarçado. Além disso, sempre que converso com uma amiga e o assunto descamba numa dessas filosofias de livro de auto ajuda, é certo que nos havemos de lembrar da Teoria da mosca e desistimos por ali com medo de que forçar o cérebro neste tipo de questões nos faça perder qualidade de vida…
Enfim, uma coisa é certa, se acaso estiver por aí algum Nuno Crato wannabe capaz de pôr estas ideias numa fórmula matemática de aplicação directa, ficar-lhe-ei eternamente agradecida, e prometo, se isto o fizer feliz, que não usarei nenhum tipo de cábula!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Sudoeste

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cansei de você, sexy

Da primeira vez que ouvi alguém dizer, com uma convicção perturbadora que os homens não se querem bonitos devo, muito provavelmente, ter torcido o nariz. Os homens não se querem bonitos? Ora aí estava um grande disparate...terei pensado enquanto mascava uma gorila de morango e repousava os olhos gigantes nas fotos dos galãs brasileiros das telenovelas da tarde, que em poses sensuais adornavam a minha bravo ou super pop, com ou sem brinde. Agora que sei o que sei, essa afirmação já não me parece tão disparatada...Os homens bonitos, e por homem entenda-se todo o espécime masculino, desde aquele miúdo loiro de sorriso giro que queria ser policia e nos fazia suspirar nos intervalos da escola primária ao professor charmoso que nos deixava convictas que o amor não escolhe idades, já não me dizem nada. Cansei de homens bonitos. Principalmente daqueles que não lhes basta serem bonitos ainda para mais também têm de ser algo interessantes, gostar das mesmas músicas que nós e frequentar mestrados. São os piores dos homens bonitos…esses. E eu…eu já não gosto deles. Porquê? Por uma razão muito simples. Porque os homens bonitos até nos podem convidar para ir com eles à praia num dia de chuva, ou para dar um salto até à cidade onde habitam na sua condição de homens bonitos para ir comer umas sandes de choco, podem até dizer que somos sensuais e dar a entender que podíamos ser muito felizes num Land Rover, mas a realidade é que esses mesmos homens bonitos acabam invariavelmente, com a amiga de infância 38 D que lhes afaga o ego com a mesma precisão e mestria que lhes afaga a … cabeça.
E a verdade é que os homens, ou rapazes, bonitos da actualidade, fazem insinuações atractivas com a mesma malícia provocante que o tal miúdo do sorriso, de antigamente, nos dava um rebuçado e nos perguntava se queríamos ser a namorada dele. A única diferença é que já não damos tanto valor a flocos de neve amachucados e sabemos muito bem que esses rebuçados não foram guardados romanticamente só para nós, mas sim que sobraram de algum saquinho de festa de anos.
Os homens que já quis bonitos, hoje*…não fazem o meu género.
E a partir de agora, só aceito convites de corcundas e desdentados.



*mas só hoje

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fórmula de Sucesso pós-exames

Jovem, se és universitário, estás em época de exames, achas que a tua vida é ridícula e não consegues colher os frutos do teu estudo, mais ou menos, intensivo, este texto é para ti.
Aqui seguem seis incriveis passos que, se não fizerem de ti, estudante universitário frustrado, uma melhor pessoa e um melhor aluno, ao menos ajudar-te-ão a lidar com o fracasso.

A situação é esta, acabaste de fazer o exame da época de recurso de uma disciplina essencial à finalização do teu curso e correu-te mesmo muito mal:

Lamenta-te o mais que puderes durante cinco minutos, gesticula efusivamente, tapa os olhos com as mãos e finge que estás a chorar, faz uso daqueles nomes feios que aprendeste no primeiro ciclo para descrever os regentes das cadeiras e traça um futuro negro e pessimista envolvendo a tua vida amorosa e a forma como acabarás a viver o resto da tua vida numas águas furtadas na Brandoa com 20 gatos. Já está? Boa, agora chega que ninguém gosta de choramingas queixosos.
Reúne um grupo de amigos a quem o exame tenha corrido tão mal quanto a ti e que, de preferência, tenham tido piores notas que tu no exame da época normal. Ao menos nesse círculo vais sentir-te uma pessoa inteligente.
Sugere irem todos almoçar uma especialidade estrangeira, e escolhe o restaurante mais longe da tua faculdade. Evita ao máximo aqueles lugares frequentados por gente bem sucedida, vulgo sítios circundados por bancos, ateliers e agências de consultadoria. Sugestão: centro comercial nos subúrbios. Entre pessoas com piercings brilhantes debaixo do lábio, meias por cima das calças, e tatuagens tribais, vais chegar à conclusão que tens uma vidinha abençoada, graças a deus.
Enche-te de coragem e determinação e vai a um daqueles restaurantes “coma tudo o que puder por oito euros”. Dobra-te em dois para tentares agarrar o maior número de pratos no tapete rolante, aceita com um sorriso todos os outros que a senhora simpática de olhos em bico te oferecer e come até sentires que bagos de arroz estão prestes a sair-te pelos os olhos, ou começares a pensar que não faltará muito para te acontecer algo semelhante àquele sketch dos Monty Python. Fica no restaurante até desligarem o tapete e só aí, sai.
Sai, mas não vás muito longe. Vai beber um café para ganhares coragem e aprecia a vista. Aí Faz uma bucket list (ver filme com Jack Nicholson e o Morgan Freeman) com planos para as férias que terás em breve se entretanto sobreviveres ao stress de teres dois exames por dia. Faz muitos planos. Quanto mais improváveis melhor: andar de camelo, apanhar um robalo de 15 quilos, dar um mergulho nas águas quentes das Maldivas, etc.
E último ponto. Chega a casa, verifica o e-mail e põe-te a estudar, mais ou menos, intensivamente. Amanhã, depois do exame daquela disciplina difícil para a qual não tiveste tempo para aprofundar conceitos…retoma no 1º ponto.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Sardinha e o Cherne

Poderão os leitores desprevenidos, pensar que aqui se iniciará uma fábula, daquelas, à la Fonteine, em que a sardinha encontra o cherne, ou o cherne encontra a sardinha, e o cherne e a sardinha certamente ao se encontrarem dirão algo um ao outro, nada estranho numa fábula, com elevada carga moral, mas, meus caros leitores, não é de certo uma fábula de que isto se trata.
Passa-se algo comigo, uma dicotomia engraçada, talvez não tão engraçada como a palavra dicotomia, que pode resumir-se ao facto de os meus dois peixes favoritos serem a sardinha e o cherne.
Os mais perspicazes perceberam já a minha intenção ao revelar tal aspecto da minha personalidade. Os outros, bom os outros com sorte, hão-de lá chegar.
Ora, de um lado temos a sardinha, brejeira, descarada, vadia, bairrista, que fica perfeita em cima de um pão, metáforas à parte. Do outro temos o cherne, elitista, requintado, de aspecto fino e delicado. E ambos não se misturam. A sardinha lá fica no seu bairro, na Madragoa, na festa de verão, e o cherne, esse, por certo não o apanharão numa tasca.
Analisadas bem as coisas, num acto introspecção que me aconselhou Maria Helena Martins na previsão para o mês de Janeiro, posso afirmar, sem dúvida alguma, ou talvez com uma ou duas, que estas minhas preferências, revelam com grande precisão a essência da minha personalidade. Também eu sou brejeira e descarada, e também eu sou, dependendo é claro do dia, requintada! O meu problema é que ao contrário da sardinha e do cherne, as minhas várias características…confundem-se. E então não é raro verem-me comportar como uma sardinha num local em que devia comportar-me como um cherne, e vice-versa.
E, se por um lado acho que faria melhor ao tentar equilibrar estas minhas duas facetas, por outro sinto-me uma espécie de rebelde sem causa, um James Dean no feminino, a mandar às urtigas as convenções sociais.
Para dizer a verdade, só ficarei um dia contente, quando ao jantar num restaurante mais fino, o garçon, elegante no seu pappillon e com o guardanapo no antebraço, me diga, numa voz ponderada, que a especialidade é...sardinha assada, ou quando no verão em plena romaria de noite de santos populares, me tentem vender por um euro e meio uma fatia de pão com cherne.

sábado, 9 de janeiro de 2010

UM ANO

A FAZER

BOLACHAS HÚNGARAS*

*No dia em que um tal de Jimmy Page faz anos, só nos resta dizer-vos...we can´t quit you babes

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Abrázame a ti por Dios



Mesmo quando o tempo passa e eu não dou por isso... mesmo quando não quero e não o sei. mesmo com a vida que levo. até mesmo com a vida que levei. queria ainda que me abraçasses a ti. nem que fosse por Deus. e eu sei que, ás vezes, ainda vais à missa ao domingo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Vinte Anos

Hoje é dia quatro de Janeiro. Acordo às 10 da manhã, visto o que tinha planeado, na noite anterior antes de adormecer. O vestido preto que usei quando fiz vinte anos. Se fosse um desenho animado teria mais 10 vestidos iguais, como não sou, tenho só um e uso-o muitas vezes. Mas o dia de hoje não é meu, é de um amigo, meu. Vinte anos tem esse meu amigo. E hoje, dia quatro, faz anos. Vinte. E qualquer coisa… O que interessa é que tem vinte. E que para o ano vai voltar a fazer vinte (e qualquer coisa).

O almoço de comemoração acontece na tasca, a três quarteirões da faculdade, é regado a sangria, servida num jarro bastante sui generis, conversa animada na qual sucedem várias intromissões do empregado de mesa, que se acha, naturalmente, muito espertinho. As revelações mais promíscuas do reveilloin, vêm há baila. Este tema ainda consegue dar pano para mangas. E os pormenores ácidos contrastam com a doçura das vozes que os relatam. Gargalhadas e olhares de espanto são recorrentes.

Numa tasca não há velas nem mariquices que tais, por isso também não se cantam os parabéns. Não vá o diabo tecê-las. Valeram os trinta cêntimos de benesse do garçon, como gesto de pura simpatia pelo amigo aniversariante. Os presentes, esses, vieram mais tarde, já na companhia de uma chávena de chá de maçã-canela e num ambiente menos brejeiro. Mas antes que se fizesse tarde, todos regressam às suas casas, não vá alguém achá-los ridículos!