sábado, 13 de março de 2010

Kiabos

Sentada numa esplanada com vista privilegiada sobre a cidade, comia um croissant de chocolate e tentava não pensar na vida. Ao meu lado, outra daquelas pessoas introspectivas fazia o mesmo enquanto bebericava uma limonada. Migalhas caíam-me traiçoeiras dos lábios para a camisa de gola alta sufocante e desta para as calças alcançando só a muito custo o chão. Soprava uma brisa ligeira que fazia os cabelos esvoaçantes em direcções contrárias encontrarem-se num ponto comum: o molho de chocolate. Alguns pegavam-se em conjunto com as migalhas aos cantos da boca. O silêncio era tão só o mastigar crocante e o amachucar da palhinha com os dentes. No largo reinava uma agitação muito pouco agitada para um dia quente, como aquele. Nada nem ninguém fazia intenção de perturbar a quietude que fazia lembrar uma tarde de Domingo. Passaram um casal, dois turistas, um cão e o seu homem, uma rapariga e três estudantes Erasmus. Nove pessoas e um cão. Demorei-me em todos os seus detalhes. Ao meu lado alguém fixava um copo vazio de limonada e por pouco não alcançava o objectivo de pensar em nada. Voltou a passar a rapariga, passou também um apresentador de televisão. Não me pareceu muito feliz, nem contente. E se alguém que vê beleza numa maçaroca e num kiabo não passa contente…como se pode alegrar a gente?

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito o texto, le-lo foi como que um tele transporte para uma cadeira dessa esplanada, às vezes sabe bem simplesmente estar.

Inês Rubio disse...

Se sabe...;D