domingo, 20 de dezembro de 2009

Frio & Programas de Natal para todos nós

Estou rodeada de lenços de papel por todos os lados. Grande parte deles usados. O gato preto com nome de cantor africano dormita enroscado em si próprio, sem que a desarrumação pareça preocupá-lo.
Na mesinha de cabeceira amontoam-se os remédios milagrosos que prometem fazer com que pare de tossir, de espirrar e com alguma sorte impedirão que mais lenços se juntem aos outros.
Está um frio gelado que ameaça tornar-me as mãos em dois glaciares se continuar a insistir em escrever estas linhas.
Do andar debaixo sobem distorcidas as músicas dos programas dedicados à época Natalícia. Apresentadores sedentos de solidariedade e alegria e amor, acompanhados pelas grandes estrelas da constelação musical portuguesa, chamam o público sénior a abanar a cabeça para um lado e para o outro, e enquanto este canta sua própria versão da música "White Crhistmas” bailarinas sorridentes de fatos brilhantes feitos à medida desafiam o frio entre piruetas bem ensaiadas.
É claro que não sei precisar nada disto, enfiada que estou entre mantas polares, mas se me permitem sinto-me, do alto da minha experiência de fins-de-semana pré natalícios, no direito de adivinhar. Além disso podia jurar que acabei de ouvir uma voz trémula dizer que no tempo do Salazar não fazia tanto frio pelo que mantenho a minha versão.
A verdade é que não é uma boa altura para se ficar doente, esta. Nem um bom sítio. Aqui de Inverno faz tanto frio como no Verão faz calor, um calor sufocante. Mas se me perguntassem neste momento o que preferia eu, de nariz vermelho responderia sem dúvidas e em voz nasalada, venham de lá esses 40º graus à sombra! Ou não, que eu até sou pessoa para gostar do Inverno. E agora se me dão licença vou ali tomar mais um comprimido e preparar-me para emoções fortes. Este deve ser dos bons, se bem me recordo no folheto informativo referiam possibilidade de alucinações.

5 comentários:

ZdT disse...

Já tinha saudades Inês! *

Fica aqui o meu mimo, a ver se a Bolacha melhora =)

Aliás é bom que melhores depressa porque, do alto da nossa incorruptível serenidade de gente crescida, todos escondemos, não tão cá dentro como isso, um puto reguila que está a torcer com toda a força para que se largue a nevar como no tempo dos mamutes, só para ir lá para fora lançar bolas e fazer bonecos e, ao que parece, já faltou bem mais.

Inês Rubio disse...

Obrigada Zé!! :D

Ahaha. Melhorarei com certeza, a tempo de ir lá fora chapinhar nas poças de àgua e deixar que, a seu tempo, me caiam flocos de neve de alto a baixo sem me dar ao trabalho de os sacudir.

Só de pensar nisso já sinto os cêgripes a fazer efeito!

O Meu Outro Eu Está a Dançar disse...

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor!
0 que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando,
Não estarei bem se não me deitar na cama
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu… Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.

Fernando Pessoa

Inês Rubio disse...

:D não conhecia o poema...traduz na perfeição o drama que é...estar-se constipado!

O Meu Outro Eu Está a Dançar disse...

:) santinha!